quarta-feira, dezembro 23, 2015
EQUINOS SÃO SACRIFICADOS COM RIFLE SANITÁRIO NO CEARÁ
Entidades
protetoras de animais denunciam o sacrifício de mais de 5 mil equinos com rifle
sanitário, método que está sendo utilizado pela Agência de Defesa da
Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri) em cavalos acometidos por doenças
infectocontagiosas. O presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária
(CRMV-CE) reconhece que a morte dos animais com tiros é restrita a casos
excepcionais, mas afirma que a medida é provisória.
"O
Conselho concordou temporariamente, mas não é da forma como estão dizendo, não
são 5 mil sacrificados, isso é até a compra dos medicamentos", explica o
presidente do CRMV-CE, Célio Pires Garcia. No início do mês, um Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre a Adagri e o Ministério Público do
Ceará (MPCE) estabeleceu que os medicamentos necessários para eutanásia química
devem ser adquiridos até janeiro de 2017, sob pena de multa diária de R$ 5 mil.
Segundo o
MPCE, o uso do rifle sanitário foi aceito ´´enquanto houver a necessidade, com
supervisão e orientação de médico veterinário oficial e com pessoa capacitada
para efetuar o disparo’’. A ONG Viva Bicho, no entanto, questiona as “desculpas
esfarrapadas” da Adagri e defende que os animais não estariam doentes.
"Não
existem laudos veterinários que comprovem as doenças, há interesse econômico
por trás, querem prejudicar os animais de forma cruel", diz a presidente
da Viva Bicho, Tiziane Machado. Ela denuncia ainda que o sacrifício dos animais
tem o objetivo de desocupar terrenos para vaquejadas.
A dose da
eutanásia química, segundo Célio, custa em torno de R$ 38, enquanto que uma
bala de rifle estaria na faixa de R$ 6. "O problema é mais a
burocracia", avalia o presidente. As dificuldades para a aquisição de
fármacos anestésicos, conrolados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), também foram apontados pela Adagri.
O diretor de
sanidade animal da Adagri, Amorim Sobreira, informou que este ano já foram
registrados cerca de 5.685 processos de eutanásia de cavalos por conta de
anemia infecciona equina e mormo. "São doenças que não têm cura nem vacina
preventiva. E o mormo é uma zoonose que pode infectar as pessoas". Amorim
informou ao o POVO Online que a agência vai adquirir cinco mil doses de
medicamentos para a eutanásia química, que será realizada em determinados
casos.
"Estamos
iniciando os sacrifícios com rifle, mas somente em animais que têm laudos
positivos para as doenças infecciosas. Isso dos animais não estarem doentes é
boato. Nós temos os laudos, mas são dos proprietários, que não querem ser
expostos". Amorim informou que a Adagri disponibilizaria os laudos às
entidades protetoras de animais mediante ação judicial. O material também foi
negado à reportagem.
Para
Tiziane, a medida mostra que o Ceará vai na contramão do pensamento do restante
do mundo sobre a proteção da fauna e da flora. “Estão querendo matar tudo1
Ninguém se importa com o bem estar dos animais e, supondo que estão doente,
matar com rifle? O que seria um tiro em um animal desses, que pensa, tem medo e
tem consciencência? Estou horrorizada".
O POVO
Online tentou entrar em contato com o procurador de Justiça do MPCE, Francisco
de Oliveira Filho, mas as ligações não foram atendidas.
Animais
Um
veterinário, que preferiu não se identificar, afirma que o rifle sanitário não
é proibido e, no caso do mormo, é um método de proteção. "É uma zoonose
que pode passar pra gente, então nesse caso seria uma proteção", avalia.
Segundo ele,
não há necessidade de rifle sanitário para a anemia infecciosa. Outro
profissional, que também não quis ser identificado, explica que o rifle pode
ser mais doloroso para o animal. "Se ele se mover meio milímetro a bala
não pega onde deveria e serão precisos outros tiros".
De acordo
com o Amorim, há o pensamento de que o rifle sanitário é cruel, "mas
estudos revelam que o animal não sente dor nenhuma". "Os animais que
não são acostumados com a injeção, por exemplo, precisam ser contidos. Por
semana, chegam na Adagri em torno de 25 animais com essas doenças infecciosas,
ser não tomarmos providências rápidas esse número pode duplicar", pondera.
A
expectativa da Adagri, ainda conforme Amorim, é que 60% das eutanásias
registradas sejam realizadas até o fim do próximo ano. "Cerca de 50 foram
sacrificados, mas é uma coisa mais demorada porque temos vários programas para
serem trabalhados", completa.
Fonte: O
Povo
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