sexta-feira, janeiro 29, 2016
Governo Federal libera R$ 83 bilhões em linhas de crédito
Brasília. A
presidente Dilma Rousseff retomou o figurino do primeiro mandato ao lançar mão
de mais um pacote de medidas de estímulo à economia. Coube ao ministro da
Fazenda, Nelson Barbosa, anunciar a expectativa do governo de injeção de R$ 83
bilhões de crédito via bancos públicos. A estimativa, porém, depende de uma
série de fatores, como autorização do Congresso e apetite de famílias e
empresas em tomar empréstimos, mesmo com endividamento alto e falta de
confiança no rumo da economia brasileira.
Em
entrevista, após a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social
(CDES), o Conselhão, Barbosa disse que há demanda por crédito no País, mas que
é preciso usar melhor os recursos já disponíveis para atender o público.
"Temos
o desafio de normalizar o crédito no País para que possamos estabilizar e
equilibrar a economia mais rapidamente", defendeu.
Segundo ele,
a possibilidade de liberação desses recursos pelos bancos públicos não
dificulta o trabalho do Banco Central (BC)de trazer a inflação para o centro da
meta. "São recursos que já estão no sistema, já estão no Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço (FGTS), já estão nos bancos públicos. Não há injeção de
novos recursos", afirmou.
De acordo
com o ministro, a inflação no Brasil ainda é elevada por "choque de
oferta". Mais cedo, porém, a diretoria do BC voltou a pedir, na ata da
última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) - que define a taxa
básica de juros - iniciativas no sentido de moderar concessões de subsídios nas
operações de crédito.
FGTS e
crédito consignado
Entre as
medidas anunciadas hoje por Barbosa, está o uso da multa de 40% da demissão sem
justa causa e mais até 10% do saldo do FGTS pelo trabalhador do setor privado
como garantia para o crédito consignado. A alteração precisa de aprovação do
Congresso e regulação do conselho curador (formado por representantes do
governo, dos trabalhadores e dos patrões) que tem forte resistência à mudança
por "desvirtuar" a destinação originária do fundo de aplicações em
infraestrutura, habitação e saneamento. O governo calcula que a possibilidade
de atrelar o FGTS ao consignado aumentaria em R$ 17 bilhões os recursos
disponíveis para a linha. Nada garante, no entanto, que, mesmo que a medida
seja aprovada
no
Congresso, os trabalhadores aceitem lastrear a multa e o FGTS a empréstimos
consignados no momento em que aumenta o temor das demissões.
Infraestrutura
No mesmo
balaio também foram colocados R$ 22 bilhões que estão parados no FI-FGTS, fundo
de investimento que usa parte do FGTS para aplicar em infraestrutura. "O
grande desafio é encontrar bons projetos para analisar e, caso aprovados pelo
comitê de investimentos, alocar esses recursos", disse uma fonte.
Para isso, o
governo trabalha em um novo modelo que permitirá às empresas pleitear os
recursos, mesmo antes de vencerem as concessões. Essa medida reduziria o tempo
de análise dos projetos e a liberação mais rápida dos recursos para a empresa
que sair vencedora dos leilões. O prazo pode cair dos cerca de três anos que
leva a análise de um pedido atualmente para um ano
Crédito
habitacional
Ainda com
dinheiro do FGTS, o governo vai aumentar o fôlego para o crédito habitacional
ao oferecer R$ 10 bilhões como fonte de recursos para esses financiamentos. O
fundo será mais uma vez usado como fonte de recursos para os financiamentos
imobiliários, tendo em vista a fuga de mais de R$ 50 bilhões em 2015 do
dinheiro da caderneta de poupança.
Subsídios
agrícolas
Para o setor
agrícola, o Banco do Brasil vai liberar outros R$ 10 bilhões sem aumentar o
custo do Tesouro Nacional na compensação dos subsídios por meio de uma
engenharia que envolve a liberação de parte do compulsório que o banco é
obrigado a deixar no BC. Como compensação, o banco transfere ao Tesouro o lucro
com a aplicação desses recursos, algo em torno de R$ 800 milhões por ano.
Capital de
giro
Pelo BNDES,
será ressuscitada a linha de capital de giro para pequenas empresas (R$ 5
bilhões), criada uma opção de crédito para máquinas e equipamentos (R$ 15
bilhões) e remodelada, com condições mais favoráveis, a operação para empresas
exportadoras (R$ 4 bilhões). Segundo o presidente do BNDES, o banco anunciará,
em breve, "aperfeiçoamentos" que permitirão ampliar a oferta sem a
necessidade de aumentar os subsídios.
Opinião do
especialista
Política
monetária é contraditória Esse anúncio evidencia um claro contraste na política
monetária brasileira. De um lado, o Banco Central insiste em elevar a Taxa
Selic a patamares muito altos, para esfriar a economia e frear a inflação; de
outro, o governo divulga uma expansão do crédito para aquecer o mercado, sendo,
no caso, o aumento do nível geral de preços uma consequência natural. É
possível, ainda, que sequer haja demanda significativa para parte desse volume,
já que os agentes, empresas e consumidores, estão endividados e qualquer
investimento neste momento seria de grande risco. Entende-se que o governo
federal tente recuperar parte da confiança perdida com o anúncio de uma agenda
positiva, mas as políticas que estão sendo utilizadas são contraditórias e
perigosas.
Ricardo
Eleutério
Economista
Diário do
Nordeste
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