segunda-feira, janeiro 25, 2016
Salário menor em serviços não garante alívio da inflação do setor
A diminuição
da renda dos trabalhadores de serviços, intensificada nos últimos meses, leva a
dois movimentos que podem resultar no tardio arrefecimento da inflação do
setor: de um lado, o pagamento de valores menores aos funcionários alivia os
custos dos prestadores de serviços e, de outro, com menos renda disponível, o
corte no orçamento das famílias deve abrandar também a pressão sobre os preços.
Economistas ponderam, no entanto, que este movimento é uma condição necessária,
mas não determinante para o arrefecimento dos preços em serviços e que o alívio
da inflação do setor ainda levará tempo, com a convergência para o centro da
meta podendo ocorrer apenas a partir de 2018.
Levantamento
feito com dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad) Contínua
revela que, desde 2013, a taxa de crescimento da renda média dos trabalhadores
do setor desacelerou de maneira significativa até todos os cinco segmentos
passarem a registrar quedas a partir do segundo semestre de 2015. No trimestre
encerrado em outubro de 2013, as taxas de crescimento da renda dos diversos
tipos de serviços estava acima da média geral – que considera ainda os ganhos
de trabalhadores da construção civil, indústria, comércio e administração
pública.
Já no mesmo
período de 2015, os cinco segmentos de serviços que compõem a pesquisa não só
registraram queda na renda real, como a magnitude da retração foi mais intensa
que a média geral. O impacto desses efeitos sobre a inflação não é desprezível,
uma vez que a folha de pagamento representa, em média, 30% dos custos de um
negócio e os serviços respondem por 40% do emprego formal no País, segundo
especialistas que acompanham o setor.
Para o
economista-chefe da Parallaxis Consultoria, Rafael Leão, este movimento está
claramente relacionado ao aperto no orçamento das famílias e sinaliza para a
diminuição da pressão inflacionária sobre os preços do setor. “O recuo da renda
dos trabalhadores e o aumento do desemprego no setor significam uma pressão
muito menor da parte de custos. Isso pode vir a permitir um arrefecimento dos
preços”, afirmou.
O economista
da RC Consultores, Marcel Caparoz, tem uma avaliação semelhante, mas pondera
que a trajetória de arrefecimento dos preços deve ser lenta. “A tendência é de
que a inflação de serviços recue dos quase 8,5% registrados em 2015, mas ela
não deve fechar 2016 abaixo de 7%”, estimou. Para ele, apenas entre 2018 e 2019
é que o ritmo de alta deve se aproximar do nível do centro da meta
inflacionária, de 4,5%. Já Leão projeta que a inflação de serviços fique em
6,8% neste ano e em 5% no ano que vem.
A leitura
dos especialistas é de que o encolhimento dos salários pagos aos trabalhadores
abre caminho, mas não garante um intenso processo de desinflação no curto prazo
porque, ao contrário do que ocorre com a elevação de custos, o repasse da
diminuição dos gastos para o consumidor se dá de forma mais lenta. “Isso pode
demorar até oito meses para o empresário ter certeza de que tem condições de
manter o negócio cobrando menos dos seus clientes”, disse Caparoz.
A mesma
redução de salários que beneficia o setor do lado dos custos acaba refletindo
na diminuição dos lucros sob a ótica da demanda. “O ciclo mais tradicional é o
de uma mulher, por exemplo, que na época de bonança fazia a unha duas vezes por
semana e agora, só a cada quinze dias”, exemplificou Leão. “Além da queda da
renda, as demissões e o medo do desemprego apertaram bastante o orçamento das
famílias.” Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), entre o trimestre de agosto a outubro de 2014 e o mesmo período de 2015
a massa de rendimento dos brasileiros encolheu R$ 2 bilhões, ao recuar 1,2%
para R$ 169,576 bilhões.
Caparoz
lembra que estas são condições favoráveis e necessárias para permitir o
arrefecimento da inflação de serviços, mas ainda há outros fatores pressionando
os preços. “Os gastos com energia e aluguel, por exemplo, continuam elevados”,
recordou. Já Leão alerta para outro risco. “Também tem os efeitos da indexação
que acabam levando à inércia inflacionária e limitando a desaceleração da alta
de preços”, observou.
Segmentos
Ao analisar
o comportamento da renda média dos trabalhadores das cinco categorias de
serviços, Caparoz destaca que, em tempos de crise econômica e de redução de
custos, prestadores de serviços podem ser substituídos com mais facilidade que
um operário da indústria, por exemplo. “O custo do treinamento de um
funcionário e o tempo para ele aprender suas funções são muito menores”,
observou. Isso explicaria as crescentes demissões de funcionários com salários
mais elevados e a contratações de pessoas menos experiente e, consequentemente,
com salários mais baixos.
Para ele, a
situação do setor de alojamento e alimentação é o mais delicado, já que a renda
média dos trabalhadores do segmento vem caindo há mais de um ano e registrou,
ao longo de 2015, as retrações mais intensas na comparação com os outros
segmentos. O outro grupo que chama a atenção do economista é o de serviços
domésticos, que sustentou taxas de crescimento médio da renda superiores a 4%
até meados de 2014, mas que, quando passou a cair, nas duas últimas leituras da
Pnad Contínua, passou por quedas fortes de 2,5% e 4,2% nos trimestres
encerrados em setembro e outubro de 2015, respectivamente, ante iguais períodos
de 2014.
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