segunda-feira, abril 11, 2016
Um terço dos devedores renegocia débitos, mas não consegue pagá-los
O brasileiro
endividado cortou gastos com lazer, roupas e restaurantes para quitar os
débitos, mas, ainda assim, um terço da população que renegociou o pagamento não
está conseguindo honrá-lo e voltou à condição de inadimplente.
“Falar de
finanças é um tabu, ainda mais se for sobre dívida. As pessoas não sentam para
olhar o quanto ganham e gastam”, diz a economista-chefe do Serviço de Proteção
ao Crédito (SPC Brasil), Marcela Kawauti. Pesquisa da empresa junto com a
Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) apontou que seis em cada
dez brasileiros não sabem quanto devem.
O
inadimplente precisa começar pondo no papel todas as dívidas, verificando as
mais caras (com maior juro) e checando o salário líquido (após todos os descontos).
Desde 2012, a Fundação Procon-SP oferece ajuda profissional a superendividados,
aqueles cuja dívida ultrapassa 50% dos ganhos, por exemplo. Após preencher uma
planilha financeira e passar por uma triagem, que seleciona os casos mais
graves, o devedor recebe orientações. Em audiências, especialistas fazem a
intermediação na renegociação da dívida com bancos e outras empresas.
Uma opção é
trocar dívidas caras, como a do cartão de crédito, cujo juro foi de447,5% ao
ano em fevereiro, por mais baratas. Há empresas que empacotam todas as dívidas
e as refinanciam, como a Novi, onde é possível tomar um empréstimo com garantia
imobiliária ou de automóveis. No caso em que o imóvel é a garantia, a taxa de
juros atual é de 18,86% ao ano e o empréstimo soma até 50% do valor do bem. As
parcelas são de, no máximo, 30% da renda do cliente e o prazo é de até 15 anos.
“O cliente
pode tomar nosso empréstimo para vários fins, mas cerca de 60% usam o serviço
para consolidar dívidas”, afirma o presidente da Novi, Luiz Pedro Albornoz. A
vantagem seria o alongamento da dívida, por um juro menor.
Quem é o
devedor compulsivo?
Segundo o
grupo Devedores Anônimos, viver em constante estado de dívida não é só um
problema financeiro, mas uma doença. O devedor compulsivo se caracteriza por
ter gastos que não satisfazem as necessidades reais da pessoa. Alguns deixam de
pagar cronicamente as contas, mesmo quando têm dinheiro.
Uma das
maneiras de trabalhar o problema da dívida crônica e compulsiva é buscar apoio
nos Devedores Anônimos. “Eu queria ter o dinheiro, não olhava juro nem quanto
devia. Conforme o problema aumentou, acabei recorrendo ao álcool”, relata um
membro do grupo, que preferiu não se identificar. Em encontros semanais, os
participantes recebem o auxílio para falar do problema e aprender a lidar com o
que o grupo considera uma doença que não pode ser curada, mas detida. Dividir e
ouvir a experiência de outras pessoas faz com que o endividado se identifique e
passe a buscar soluções, segundo o membro. Para participar, não é preciso se
identificar e as reuniões não são pagas.
Desinformação
Desemprego e
descontrole financeiro aparecem como os principais motivos para o nome sujo na
praça. Na pesquisa, a perda do emprego foi citada por 29,2%. “Não deixa de ser
um descontrole, pois indica que, quando estava empregada, a pessoa não fez
nenhuma reserva”, diz Marcela, do SPC Brasil.
O problema
começa nas disciplinas ensinadas nas esolas. O tema finanças geralmente fica de
fora das grades. “A falta de conhecimento, porém, não é exclusividade da baixa
renda. Há clientes que chegam com grandes dívidas, mesmo tendo renda mensal de
R$ 50 mil ou mais”, diz Luiz, da Novi. Além da falta de educação financeira nas
escolas e de conversa em casa, a desinformação é motivada pelo fato de o amplo
acesso ao crédito ser um fenômeno recente, lembra Thiago Alvarez, sócio do
aplicativo GuiaBolso, que ajuda os usuários a controlar a movimentação das
contas e cartões. “O boom do crédito é recente, depois dos anos 2000. Trata-se
de uma primeira geração que está tendo acesso ao crédito e aprendendo a
usá-lo”, avalia.
Confusões na
hora de utilizar o crédito também contribuem para o endividamento. Há quem
confunda o pagamento do mínimo do cartão de crédito, por exemplo, com um
parcelamento da dívida, sem juros. Outros acham que o cheque especial é uma
extensão do salário. “É muito conveniente facilitar o acesso às duas linhas de
crédito mais caras. O cliente as usa sem saber que está se endividando”, afirma
Alvarez.
Para o
educador financeiro da Novi, Vinicius Azambuja, é preciso entender que o cartão
de crédito não é um dinheiro extra, mas um meio de pagamento. “A questão
psicológica também piora a situação. O crédito é pré-aprovado. O endividado não
precisa falar com ninguém, não expõe que são devedoras”, diz.
Se a dívida
ficou mais cara por conta da alta do juro, o lado bom é que os bancos estão
mais dispostos a negociar, segundo Alvarez. “Estão mais abertos a quem já está
inadimplente. Os bancos estão vendo que é melhor ganhar um pouco do que não
ganhar nada”, avalia.
SERVIÇO
– Programa
de Apoio ao Superendividado (Procon-SP)
Preencha a
planilha do programa e aguarde o contato em até 30 dias
– Negociação
A Serasa
Consumidor possui um serviço online onde o devedor consegue ver suas dívidas e
entrar em contato com as empresas para tentar negociá-las.
–
Financiamento com garantias
Novi
Soluções Financeiras:
* Imóvel
como garantia
Taxa efetiva
anual: 18,86%
Valor mínimo
e máximo do imóvel: R$ 150 mil e R$ 4 milhões
Valor mínimo
e máximo do financiamento: R$ 50 mil e R$ 2 milhões
Porcentual
máximo de financiamento: até 50% do valor de avaliação do imóvel
Prazo mínimo
e máximo de financiamento: 1 e 15 anos
* Carro como
garantia
Característica:
o veículo deve estar quitado
Valor
mínimo: R$ 1.500 (não há valor máximo)
Porcentual
de financiamento: até 80% do valor do veículo (Tabela Molicar) Prazo mínimo e
máximo do financiamento: 24 e 48 meses.
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