domingo, maio 29, 2016
Bolsa Família tem fraudes de R$ 2 bilhões e 6 milhões
Uma reportagem da Revista Veja, edição deste final de
semana, mostra dados inéditos sobre o rombo no Programa Bolsa Família provocado
por fraudes e irregularidades. O rombo nas contas do Bolsa Família, segundo
dados preliminares de um levantamento pelo Ministério Público Federal a partir
de informações fornecidas pelo antigo Ministério do Desenvolvimento Social,
chega a R$ 2 bilhões e 600 milhões. As fraudes acontecem em todo o Brasil e,
por esses de cadastro, muitas pessoas que não precisam do benefício o recebem
em cidades d o Ceará.
O dinheiro, na comparação feita pelo reportagem, ‘’daria
para fazer quase 30 000 casas pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Somente
entre 2013 e 2014, pelo menos 2,6 bilhões de reais do total da verba reservada
ao Bolsa Família foram parar no bolso de quem não precisava’’.
A informação é resultado do maior pente-fino já realizado
desde o início do programa do governo federal, em 2003. Feito pelo Ministério
Público Federal a partir do cruzamento de dados do antigo Ministério do
Desenvolvimento Social com informações de órgãos como Receita Federal,
Tribunais de Contas e Tribunal Superior Eleitoral, o exame detectou mais de 1
milhão de casos de fraude em todos os estados brasileiros.
O Bolsa Família, um valor mensal a partir de 77 reais por
pessoa, é destinado exclusivamente a brasileiros que vivem abaixo da linha da
pobreza. A varredura, conforme a reportagem da Revista Veja, mostrou, no
entanto, que entre os que receberam indevidamente o auxílio no período estão
funcionários públicos, mortos e até doadores de campanha (veja o quadro na pág.
ao lado).
Só de funcionários públicos foram 585 000 os beneficiários
ilegais. Em todos os casos, os contemplados ganhavam ao menos um salário mínimo
(piso da categoria) e, segundo apurou o estudo, pertenciam a famílias com renda
per capita acima de 154 reais – situação que os impediria de receber o
benefício.
O fato de esses funcionários serem majoritariamente
servidores municipais reforça a tese do Ministério Público de que esse tipo de
fraude não dispõe de um comando centralizado. “Nasce daquele microcosmo do
município em que o cadastrador conhece quem está sendo habilitado e não tem
interesse em realizar uma fiscalização correta sobre suas condições de
pobreza”, afirma a procuradora Renata Ribeiro Baptista, que coordenou a
pesquisa.
Os doadores de campanha ocupam lugar de destaque no ranking
das categorias de fraudadores identificadas no estudo. O Ministério Público
encontrou 90 000 beneficiários do programa que, em 2014, doaram a políticos ou
partidos valores iguais ou superiores aos recebidos do programa naquele ano e
casos de grupos de dez ou mais beneficiários que transferiram verbas para um
mesmo candidato.
O levantamento achou ainda beneficiários sem CPF ou com
mais de um CPF, além de 318 000 beneficiários que eram donos de empresas. Abrir
uma empresa não significa necessariamente que alguém seja um sujeito de posses
(o processo para constituir uma firma pode custar pouco mais de 200 reais), mas
o Ministério Público acredita que poucos dos contemplados nessa situação
conseguirão provar que vivem abaixo da linha da pobreza.
Os 2,6 bilhões desviados correspondem a 4,5% do total
investido no programa no período e estão abaixo da média internacional,
apontada pelo Banco Mundial, de 10% de desvios em programas sociais. Para a
procuradora Renata Baptista, porém, a estimativa do MPF é “conservadora”.
Segundo ela, muitas fraudes ficaram de fora do levantamento. “Apenas servidores
com quatro ou menos familiares entraram no estudo.” O prejuízo ainda vai
aumentar. Íntegra da reportagem (veja.com.br)
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