sexta-feira, maio 20, 2016
STF suspende lei federal que liberava "pílula do câncer"
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Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiram
suspender a lei que liberava o uso da fosfoetanolamina sintética, conhecida
como "pílula do câncer". O uso tinha sido liberado por uma lei
aprovada no Congresso Nacional e sancionada pela presidente afastada Dilma
Rousseff em abril.
A chamada "pílula do câncer" não tem liberação da
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) por não ter ação contra o
câncer comprovada cientificamente, e nem ter sido testada em humanos.
No total, seis ministros votaram pela suspensão cautelar da
lei, conforme a ação protocolada pela AMB (Associação Médica Brasileira). O
relator, Marco Aurélio Melo, afirmou que o legislativo não poderia liberar uma
medicação sem testes clínicos. De acordo com ele, a legislação é clara ao
exigir o registro da substância pela agência fiscalizadora (Anvisa). Assim, a
lei foi considerada inconstitucional.
O ministro Luiz Fux argumentou também que a liberação da
pílula poderia onerar o Estado, já que as universidades não possuem estrutura
para produzir em larga escala um medicamento --a USP foi obrigada por diversas
ações judiciais a fornecer o medicamento para pacientes de câncer. "Há ainda o medo de que a substância
faça os pacientes abandonarem os tratamentos tradicionais", disse Fux.
Luís Roberto Barroso lembrou, em seu voto, que a Anvisa
possui programas que viabilizam o uso de medicamentos experimentais, sem
registro, no tratamento de doenças que não tenham alternativa terapêutica
satisfatória. "A fosfoetanolamina sintética poderia ser oferecida no
âmbito desses programas, com autorização da Anvisa."
Quatro ministros votaram pela liberação para pacientes
terminais
O ministro Edson Fachin considerou que a lei deveria ser
mantida para pacientes terminais pois não caberia ao Estado estabelecer o que
um cidadão pode ou não usar como medicamento, evocando o direito de autonomia e
da autodefesa da vida.
"Por isso, quando não houver outras opções eficazes,
pode haver relativização do controle do medicamento. Nesses casos cabe ao
Congresso Nacional reconhecer o direito de pacientes terminais usarem o
medicamento mesmo que os riscos sejam ainda desconhecidos", explicou.
Fachin, Rosa Weber, Dias Toffoli e Gilmar Mendes defenderam
que a liberação da substância fosse mantida no caso de pacientes terminais,
mesmo sem as devidas pesquisas cientificas requeridas pela Anvisa.
Testes em humanos serão iniciados
A fosfoetanolamina sintética foi desenvolvida inicialmente
pelo Instituto de Química da USP (Universidade de São Paulo), em São Carlos, no
interior do Estado, por uma equipe coordenada pelo professor aposentado
Gilberto Chierice. Durante anos, a substância foi distribuída gratuitamente
para pessoas interessadas.
Uma determinação da USP, no entanto, impediu a
distribuição, o que fez com que muitos pacientes entrassem na Justiça para
conseguir acesso ao medicamento. Muitos doentes garantem ter detectado efeitos positivos
ao usar a "pílula do câncer", mas análises iniciais não comprovaram
sua eficácia.
Uma lei aprovada pelo Congresso Nacional foi sancionada
pela presidente afastada Dilma Rousseff em abril permitindo a comercialização e
uso da substância mesmo sem registro da Anvisa. O texto do projeto de lei
permite que pacientes diagnosticados com câncer usem a substância por livre
escolha, desde que assinem termo de consentimento e responsabilidade, antes de
concluídas as pesquisas científicas para seu registro definitivo na Anvisa.
Dias depois, a AMB (Associação Médica Brasileira)
protocolou uma ação direta de inconstitucionalidade e mandado de segurança no
STF para suspender a lei.
Um laboratório foi autorizado a produzir a fosfoetanolamina
sintética para análises clínicas. Já foram manufaturadas 35 quilos da chamada
"pílula do câncer" para serem testadas em pacientes de hospitais em
um trabalho coordenado pelo Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo).
Em um primeiro momento, o estudo definirá a dose a ser
ministrada em dez pacientes. Também serão analisados efeitos colaterais graves.
Não havendo problemas, 21 voluntários passarão a tomar a substância. Entre
outros, estarão envolvidos doentes com tumores no pulmão, próstata, fígado e
estômago. A intenção é ir ampliando o número de pacientes até chegar a 1 mil.
Agencia miseria
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