quarta-feira, junho 22, 2016
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Municípios pedem ao governo mesmo modelo de renegociação de dívidas dos Estados
Municípios pedem ao governo mesmo modelo de renegociação de dívidas dos Estados
Diante do acordo fechado na segunda-feira, 20, para a
renegociação das dívidas dos Estados com a União, as prefeituras iniciaram uma
campanha para receberem o mesmo tratamento. Em carta, a Confederação Nacional
dos Municípios (CNM) reclama da exclusão das prefeituras nas rodadas de
negociação e pede agora que o presidente em exercício Michel Temer (PMDB) abra
um canal de diálogo. A principal demanda é resolução da dívida previdenciária
dos municípios, que hoje supera R$ 100 bilhões, estima a CNM.
A entidade argumenta que o cálculo precisa ser revisto, uma
vez que inclui dívidas prescritas e que continuam sendo cobradas. Antes, a Lei
8.212/1991 previa que débitos previdenciários seriam prescritos em dez anos,
mas o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou o prazo inconstitucional em
2008. Assim, só poderiam ser cobradas dívidas de até cinco anos, como é a regra
para passivos tributários.
Desde então, porém, a dívida previdenciária não foi
revista, critica a CNM. Com a exclusão dos débitos prescritos, o recálculo de
juros e a devolução do que foi pago de forma indevida, a cifra cairia a R$ 30
bilhões, diz a entidade.
Apesar da divergência, essa dívida segue sendo cobrada pela
União por meio de bloqueios nos repasses do Fundo de Participação dos
Municípios (FPM), pagos em três parcelas por mês. No primeiro trimestre deste
ano, 986 municípios (17,7% do total) tiveram pelo menos uma das parcelas
zeradas, segundo levantamento da Confederação. Isso significa que uma parcela
dos recursos ficou retida para o abatimento da dívida previdenciária. A prática
também ocorreu entre 2013 e 2015.
Essa medida tem estrangulado o caixa dos municípios, que
dependem dos recursos do fundo para pagar salários. Diante do aperto, algumas
prefeituras têm dado prioridade às remunerações e ficado inadimplentes com a
Previdência, o que cria uma bola de neve na dívida.
“Como os municípios estão priorizando salários, a situação
está se aprofundando”, diz o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski. Ele reconhece,
no entanto, que o fato de 2016 ser ano de eleições municipais dificulta a
resolução do problema.
Os municípios também querem a renegociação das condições da
dívida previdenciária. Isso porque a receita bloqueada no ano muitas vezes não
paga sequer a parcela dos juros, o que faz o bolo crescer ainda mais. Grande
parte dos débitos é atrelada à Selic, atualmente em 14,25% ao ano.
Entre os municípios que tiveram parcelas do FPM
integralmente bloqueadas neste ano estão Campinas (SP) e Ribeirão Preto (SP),
mas a maioria é formada por pequenas cidades, muitas vezes dependentes dos
recursos federais. Ao todo, cerca de 4.900 dos 5.570 municípios têm dívidas
previdenciárias, segundo a CNM.
Na carta, a confederação também pede que o governo federal
regularize os repasses a programas sociais como o Bolsa Família. Segundo
Ziulkoski, os pagamentos têm demorado a ocorrer, o que fragiliza ainda mais os
caixas dos municípios, que são os responsáveis por operacionalizar os
programas. “É uma pedalada permanente”, critica. Segundo ele, a aprovação da
Desvinculação das Receitas da União (DRU), que elevou de 20% para 30% a fatia
do Orçamento que a União pode direcionar livremente, foi “a pá de cal para
enterrar as prefeituras”.
“Os municípios têm dificuldade muito maior que os Estados.
O presidente colocou o fortalecimento de Estados e municípios, a criação de um
novo pacto federativo, como prioridade. Mas achamos (a negociação recente) uma
desconsideração com os municípios”, afirma Ziulkoski. “O governo convocou
Estados, fez toda uma negociação, mas esqueceu os municípios.”
Ao contrário do que ocorreu com os Estados, a
judicialização em relação a essas questões ainda é pequena devido à
“desinformação” das próprias prefeituras. A confederação, por sua vez, não pode
fazer uma representação unificada, explica Ziulkoski.
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