terça-feira, junho 28, 2016
TRANSPORTE AÉREO FACILITA OS TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS NO CE
O tempo de vida pode ser inversamente proporcional ao tempo
de espera para quem está na fila de transplantes. Após se obter um órgão
saudável, os desafios seguintes são "como chegar" e "como
receber". Por isso, tudo que possa aumentar as chances de um procedimento
ter êxito é visto com bastante expectativa.
No Ceará, pessoas na fila esperam que o tempo possa
diminuir com a obrigatoriedade de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). A
determinação partiu do governo federal, neste mês, uma semana após a Justiça
Federal ordenar, em caráter liminar, que haja um avião pronto para os
transplantes de emergência. Em 2015, a FAB realizou 24 transportes de órgãos,
três a menos que no ano anterior. Rim, córnea e ossos são os órgãos mais
transportados por companhias aéreas e pelos Correios. Entre 2013 e 2015, 5.700
órgãos chegaram às unidades transplantadoras via aérea no País, sendo o Ceará
um dos Estados tanto receptores como fornecedores. Rim e coração são os
principais. O trabalho é monitorado pela Central Nacional dos Transplantes
(CNT). O primeiro do ano no Ceará foi um rim, em 6 de fevereiro, cujo doador
residia na Paraíba. Dois dias depois, um fígado aterrissou em Fortaleza vindo
de Natal (RN).
Referência
No Ceará, o aumento de transplantes, por todas as vias de
transporte, ocorre ininterruptamente desde 2012, embora tenha havido uma
guinada evolutiva de 321% desde 2006 - o ano de 2015 fechou com 1.433
transplantes, a quase totalidade com órgãos transportados por via terrestre.
Entre janeiro e abril foram sete transplantes de coração, o suficiente para
manter o Hospital de Messejana entre as três unidades de saúde de referência
nacional.
Mas a suspensão dos contratos de prestadores de serviços
pelo governo do Estado no início do ano causou apreensão em pacientes na fila
de espera. Isso porque os médicos que realizam exame de ecocardiograma nos
órgãos doados, também tiveram os contratos suspensos.
"A falta de um ecocardiografista pode impactar no
número de transplantes, gerando uma demora na fila de espera, mas a nossa
equipe está preparada", afirma o médico João Davi, coordenador da unidade
de transplante do Hospital. O diretor-clínico da unidade, José Eldon, admite
que a suspensão dos contratos temporários causou mudanças para evitar que haja
falta de atendimento emergencial quando se tem um órgão doador.
"Os ecocardiografistas precisam receber via
cooperativa, que eles não têm, mas acredito que, em até um mês, esse não será
um problema. Enquanto isso, mantemos especialistas de sobreaviso".
Indagado se já houve interrupção de transplante pela falta do exame, Eldon
disse que só responde pelos 45 dias em que a unidade está com nova gestão.
"Nesse período recente, garanto que nenhum procedimento deixou de ser feito".
Irmãs de doação
Não é difícil encontrar pessoas que, pelos mais diferentes
motivos, necessitam da substituição de algum órgão por outro saudável. A
adolescente Celi de Melo Lopes, de Santa Quitéria, não conhecia ninguém que
precisasse de transplante até ela própria começar a hemodiálise. Precisava de
um rim. Substituiria um órgão e a rotina de, três vezes por semana, acordar na
madrugada para viajar a Sobral para horas de hemodiálise.
"Ligaram várias vezes, mas nunca dava certo. Depois
pensei: só venho agora quando for um meu". Para a mãe de Celi, a menina
falou pela boca de um anjo, pois no dia 26 de maio conseguiu fazer o
transplante. O doador, que havia morrido, também foi o autor da mesma gentileza
para Ana Ryane, de 8 anos, companheira de quarto de Celi no Lar Amigos de
Jesus, em Fortaleza. "Elas são, agora, irmãs de doação. As duas receberam
da mesma pessoa. Todo dia eu oro pelo doador", diz Birlândia da Silva, mãe
de Ryane.
FIQUE POR DENTRO
Campanha mobiliza as doações
A campanha "Doe de Coração", realizada pela
Fundação Edson Queiroz desde 2003, se tornou referência em todo o País. É
reconhecida pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e vem
contribuindo sobremaneira para a ampliação do número de doações voluntárias no
Estado do Ceará.
A mobilização vem sendo realizada em hospitais, escolas,
clínicas, no Sistema Verdes Mares, na Universidade de Fortaleza (Unifor) e em
entidades diversas para disseminar essa mensagem de esperança de vida para quem
precisa de um gesto tão simples para garantir qualidade de vida ou mesmo a
sobrevivência.
Fonte: Diário do Nordeste
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