quarta-feira, julho 06, 2016
Ossadas humanas estão abandonadas em galpão sujo do IML de Maceió
Ossadas humanas espalhadas pelo chão do antigo Instituto
Médico Legal (IML) de Maceió (Foto: Juca Varella/Folhapress)
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No chão sujo de um pequeno galpão com paredes azulejadas,
em meio a um amontoado de folhas secas, o IML de Maceió abandonou ossadas
humanas inteiras, algumas delas com identificação.
Úmeros (ossos superiores dos braços), fêmures (os das
coxas), pedaços de costelas e ao menos dois crânios estão espalhados pelo
local, desativado há cerca de três anos.
Há material humano sobre os balcões do espaço que, embora
coberto, tem as paredes vazadas, pois era usado para a análise de corpos
putrefatos, que exalavam forte odor.
Parte das ossadas ainda está dentro de sacos feitos para
transportar cadáveres. Um dos ossos traz uma etiqueta vermelha numerada, do
Neac (Núcleo de Estatística e Análise Criminal), da Secretaria de Defesa Social
de Alagoas.
A Folha encontrou as ossadas duas semanas atrás, ao visitar
o antigo Instituto Médico Legal da capital alagoana. Foi numa daquelas salas
que, em 23 de junho de 1996, os corpos de PC Farias e da namorada, Suzana
Marcolino, foram examinados.
O material está jogado no galpão, localizado num terreno
baldio habitado por um bando de gatos, desde ao menos 2013. Naquele ano, o IML
passou a funcionar em instalações anexas e desativou a antiga, que pertence à
Ufal (Universidade Federal de Alagoas), deixando para trás os ossos. O prédio é
tombado.
Segundo o médico legista Fernando Marcelo de Paula, diretor
do IML desde o ano passado, o Estado não pode retirar as ossadas sem antes fotografá-las
e classificá-las.
Para isso, precisaria pagar hora extra aos legistas, mas
não há dinheiro para o serviço, diz o diretor. O médico afirma que vem tentando
um acordo com a Ufal, que tem vínculos com dois legistas do IML, para cobrir os
custos. Segundo ele, há um quartinho trancado no mesmo terreno com mais
ossadas.
DESCASO HISTÓRICO
O IML de Maceió possui um histórico de problemas. Em 2012,
legistas entraram em greve por 15 dias. O Conselho Regional de Medicina de
Alagoas apontou "condições subumanas e indignas" de trabalho após
vistoria no local.
A falta de água era frequente no prédio. Moscas se
aglomeravam nas paredes, e urubus sobrevoavam o terreno. Durante a paralisação,
corpos ficaram jogados no chão. Alguns acabaram transferidos para o IML de
Arapiraca, a mais de 130 km de Maceió. Pelo menos 184 foram enterrados sem
atestado de óbito. Um ano depois da greve, a Justiça determinou que os mortos
sepultados sem documentação fossem exumados.
Ainda em 2013, um novo prédio para o instituto começou a
ser erguido, mas problemas de construção encareceram a obra, o que atrasou a
entrega. A conclusão está prevista para o próximo ano.
PROMESSA
De acordo com o diretor do instituto, as ossadas humanas
abandonadas no prédio desativado do IML deverão ser retiradas nos próximos
dias.
Segundo ele, o instituto possui 16 legistas (o necessário,
segundo ele, seria o dobro). "Temos que fotografar e classificar os ossos
de forma responsável. Não podemos tirá-los de qualquer jeito", diz.
O médico diz ainda que Maceió não tem um ossuário para
armazenar as ossadas de corpos não identificados e que os enterros de
indigentes são feitos, hoje, na capital, num rodízio entre seis cemitérios, por
falta de espaço.
A Ufal, dona dos prédios, afirma em nota que a
responsabilidade sobre o material é do IML e que, ainda em 2014, a diretora do
Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, professora Iracilda Maria de
Moura, vistoriou as instalações e identificou "a exposição de restos
humanos".
À época, a universidade notificou o IML para tomar alguma
providência, segundo a assessoria da instituição. Nada, porém, foi feito e o
material continuou no local.
A universidade afirmou que seu vice-reitor, José Vieira,
encaminhou na quarta-feira (22), um dia antes de ser procurado pela reportagem,
um ofício solicitando "a devolução do prédio e requerendo a remoção de
equipamentos deteriorados e a correta destinação de ossadas".
Fonte: Folha de S. Paulo
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