quinta-feira, setembro 01, 2016
Açudes cearenses atingem menor nível em 22 anos
O Açude Orós atingiu um dos mais baixos índices da sua
história: ontem, registrava um acúmulo de apenas 22,3% de volume d'água ( FOTO:
HONÓRIO BARBOSA )
Iguatu. As reservas hídricas do Ceará caíram para 9,7%, o
menor percentual em 22 anos. O quadro é grave e preocupante. Nos próximos meses
segue a tendência de queda do nível dos açudes estratégicos para o
abastecimento de água dos centros urbanos. Pelo menos nos próximos quatro meses
não há expectativa de ocorrência de chuvas no sertão cearense significativas
para recarga dos reservatórios.
A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh)
monitora 153 açudes no Ceará. Desse total, 128 estão com volume abaixo de 30%.
Há 23 reservatórios secos e 46 com volume morto. Não há nenhum acima de 90%. No
início deste ano (janeiro) as reservas hídricas estavam em 11,19%. Apenas 10
açudes têm volume acima de 50%, a maioria de pequeno porte.
A perda das reservas hídricas pode afetar ainda neste ano
ou início de 2016 o pleno funcionamento de Adutoras de Montagem Rápida (AMR)
que transferem água de açudes para os sistemas de tratamento e distribuição nas
cidades. No Ceará, há 26 AMR em funcionamento, atendendo demanda de 28 cidades.
O Governo do Ceará, por meio de uma comissão de técnicos da
Cogerh, Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Superintendência de Obras
Hidráulicas (Sohidra), Cagece e outras instituições avalia semanalmente o
quadro das reservas hídricas e a situação dos sistemas alternativos de
abastecimento das cidades e de áreas rurais.
O objetivo é definir medidas como perfuração de poços, instalação
de adutoras ou mudança de pontos de captação, ampliação de entrega de água por
caminhões pipa e implantação de reservatórios (caixas de polietileno,
chafarizes) em ruas da cidade para distribuição do recurso hídrico para a
população.
O Ceará enfrenta cinco anos seguidos de chuvas abaixo da
média, sem recarga nos principais reservatórios, com perda constante do volume
de água. Na região dos Sertões de Crateús, esse quadro já se verifica há sete
anos. A instalação de uma AMR que faz captação de água no Açude Araras, que
está com menos de 5% de seu volume, na Bacia do Acaraú, e transfere para
sistemas de tratamento e distribuição para Varjota, Ipu, Nova Russas e Crateús,
evitou o colapso no sistema dessas cidades. A reserva atual atende a demanda
até março do próximo ano, segundo o gerente da Cagece, em Crateús, Dalmo
Barreto.
E se não chover suficientemente para ocorrer recarga dos
açudes na próxima quadra invernosa (fevereiro a maio), como vai ficar a
situação? Dezenas de cidades vão entrar em colapso no sistema de abastecimento
de água. "A situação é bastante crítica face à situação dos
reservatórios", disse o meteorologista da Funceme, David Ferran.
"Estamos enfrentando o pior cenário de anos seguidos de seca nos últimos
50 anos".
Precipitações
Ferran disse que até o fim do ano pode haver precipitações,
mas sem importância para a recarga dos reservatórios. "São chuvas do caju
ou de pré-estação, mas não significativas para armazenar água". Sobre
previsões para 2017, "só em janeiro teremos informações mais
precisas".
O quadro meteorológico mostrava-se animador, após o fim do
ciclo de El Niño, e a ocorrência do inverso, o fenômeno La Niña, que favorece
chuva no Semiárido nordestino. Entretanto, esse modelo meteorológico deve
perder força em março, justamente o período em que deveria ocorrer maior
incidência de chuva na região. O quadro tende a ser de neutralidade nos níveis
de temperatura superficial das águas do Oceano Pacífico. "Se assim,
permanecer, vamos depender das condições do Oceano Atlântico", explica
Ferran.
Bacias
sdad
O Ceará foi dividido em 12 bacias hidrográficas. A situação
mais crítica verifica-se nas bacias do Baixo Jaguaribe que acumula um volume de
apenas 0,23%; Curu, 2,32%; Banabuiú, 2,44%; Sertões de Crateús, 2,84% e Acaraú,
9,29%.
Os grandes reservatórios e aqueles estratégicos para
abastecimento de centros urbanos estão secos ou secando. O Castanhão acumula
7,0% e o Orós, 22,3%. Em meio à crise, 10 reservatórios mantêm níveis acima de
50%, mas a maioria é de pequeno porte: Jenipapo (Meruoca), 77%; Caldeirões
(Saboeiro), 70%; Colina (Quiterianópolis), 67%; Trici (Tauá), 66%; Curral Velho
(Morada Nova), 64%; Tatajuba (Icó), 62%; Itaúna (Granja), 60%; Tucunduba
(Senador Sá), 55%; Itapajé (Itapajé), 54% e Acaraú Mirim (Massapé), 50%.
Diário do Nordeste
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