quarta-feira, setembro 14, 2016
Ceará vivencia a pior seca em mais de um século
Juntos, os últimos cinco anos formaram o período mais seco
do Ceará em mais de um século de história. Um estudo realizado pela Fundação
Cearense de Meteorologia (Funceme) e divulgado ontem revelou que, de 2012 a
2016, a média de chuvas registrada no Estado chegou a baixos 516mm. Individualmente,
nenhum dos anos teve volume de precipitações acima de 600mm, quando a média
histórica anual fica em torno de 800mm. Com base nos dados compilados, o órgão
classificou o período atual de estiagem como a pior seca prolongada (cinco anos
consecutivos) desde 1910.
Nesse intervalo de tempo, somente dois outros períodos
(1951 a 1955 e 1973 a 1986) tiveram tão poucas chuvas. Ainda assim, as
precipitações foram mais densas que as observadas de 2012 para cá. Na década de
1950, a média dos cinco anos totalizou 608mm, com um ano, 1955, ultrapassando a
média histórica. Já na seca dos anos 1970, a média total alcançou 566mm, 10% a
mais que a do ciclo atual.
David Ferran, meteorologista da Funceme responsável pelo
estudo, explica que uma possível razão para a estiagem tão forte e persistente
pela qual o Estado passa é o agravamento das mudanças climáticas. "É
difícil ser taxativo, mas uma característica das mudanças climáticas é a
ocorrência de eventos extremos e essa sequência de anos secos é bastante
extremo. Isso nunca havia acontecido dessa forma nos últimos 100 anos",
destaca.
Açudes
Conforme ressalta Ferran, o impacto de anos seguidos de
chuvas abaixo da média recai, principalmente, sobre os reservatórios do Estado.
Em 2012, primeiro ano do atual ciclo de estiagem, o Diário do Nordeste produziu
uma série de reportagens especiais mostrando o panorama do sertão cearense
diante do baixo volume de precipitações. A reportagem acompanhou a situação dos
açudes no início e no fim do ano. No mês de janeiro, os reservatórios estavam
com 71% da capacidade. Em dezembro, esse percentual havia caído 20 pontos,
passando para 51%.
Ontem, segundo dados da Funceme e da Companhia de Gestão de
Recursos Hídricos (Cogerh), os açudes cearenses se encontravam com apenas 9% de
sua capacidade. Ao todo, 129 açudes estão com volume inferior a 30%.
"Mesmo reservatórios grandes não têm capacidade de resistir por muito mais
tempo. Quando chove pouco em um ano, mas depois chove muito, os pequenos açudes
se recuperam. Mas, nessa sequência de cinco anos, praticamente não teve água
entrando nos reservatórios", afirma Ferran.
O meteorologista lembra que, para este segundo semestre, a
previsão é de poucas precipitações, insuficientes para a recarga dos açudes. Em
relação à quadra chuvosa do ano que vem, ele ressalta que, embora ainda seja
cedo para definições, os sinais apontam para um cenário "neutro" no
Oceano Pacífico, sem a ocorrência dos fenômenos El Niño ou La Niña.
"Nesses anos, temos que aguardar até janeiro para ter
uma previsão. A chance de acontecer um ano seco é a mesma de acontecer ano
chuvoso. Se olharmos no passado, no período chuvoso de 1952 a 2015, tivemos 38
anos neutros no Pacífico. Destes, 12 foram secos, 13 normais e 13 chuvosos. É
bem dividido", observa o meteorologista.
Ações
Além do baixo volume de precipitações, o titular da
Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará (SRH), Francisco Teixeira, destaca que
a situação do abastecimento foi agravada pelo aumento do consumo de água nas
últimas décadas, provocado pelo crescimento da população, assim como a maior
urbanização e industrialização no Estado.
Segundo ele, o Governo do Estado tem investido em ações
como construção de poços e adutoras, instalação de chafarizes e utilização de
dessalinizadores para, no mínimo, garantir o suprimento de água até a estação
chuvosa do ano que vem. "Como os reservatórios estão secos, a água de
poços é o que temos para chegar até a próxima estação. Aí poderemos ter o
restabelecimento dos açudes. Nem precisa encher todos, se tiver recarga de 20%
já ajuda", afirma.
Teixeira destaca que a SRH ainda aposta nas medida
previstas no Plano de Segurança Hídrica da Região Metropolitana de Fortaleza
(RMF), anunciado em julho deste ano. A iniciativa envolve o combate a perdas de
água, a revisão da meta da tarifa de contingência, o reúso de águas de lavagem
da Estação de Tratamento de Água do Gavião, a perfuração de poços na região do
Pecém, dentre outros pontos. Segundo ele, a expectativa é que o conjunto de
ações ajude o Estado a obter uma "economia substancial de água".
Ricardo Torres - RT NEWS
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