domingo, fevereiro 26, 2017
Só o crédito para aposentados cresce
Em meio à retração generalizada de crédito que o País vem
atravessando, apenas uma categoria de financiamento registra crescimento
significativo: a do crédito consignado para aposentados. De acordo com dados do
Banco Central, no acumulado de 12 meses até janeiro, o avanço do saldo do
consignado foi de 15,6%, enquanto o saldo total de crédito para os brasileiros
ficou praticamente estável (0,6%).
Para este ano, com o cenário ainda incerto de recuperação da
economia, os bancos continuam centrando fogo nas linhas de crédito que oferecem
menor risco de calote. Além do consignado para os aposentados, que tem
inadimplência praticamente zero, porque o desconto da prestação é feito antes
de o dinheiro chegar no bolso beneficiário, grandes instituições financeiras
apostam agora no crédito que antecipa o saldo das contas inativas do Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Financiamento restrito
O Bradesco, por exemplo, começou a operar o crédito pessoal com
garantia no saldo do FGTS há cerca de uma semana. Até quinta-feira, o banco
tinha fechado cem contratos de créditos atrelados ao FGTS, um desempenho,
segundo diretor executivo adjunto do Bradesco, João Carlos Gomes da Silva, que
ficou dentro das expectativas. Para antecipar os recursos, o banco cobra juros
entre 2,5% a 4,4% ao mês, dependendo do histórico de crédito do cliente. O
diretor observa que a taxa mínima de juros é muito próxima da cobrada nos
consignados do INSS: 2,34% ao mês.
O Santander foi o primeiro banco que entrou nessa modalidade de
financiamento, em meados de janeiro, logo após o governo anunciar que liberaria
R$ 43 bilhões que estavam parados nas contas inativas do FGTS. Eduardo
Jurcevic, superintendente executivo de produtos de pessoa física e consignado,
explica que o saque dos recursos do FGTS pode ser antecipado com juros que
variam entre 2,59% e 4,59% ao mês.
O Santander não revela como está a procura por essa linha de
crédito, mas o formato se espalha: Itaú Unibanco e Banco do Brasil informam que
avaliam a possibilidade de ter uma linha de crédito semelhante. Já a Caixa, que
é a “guardiã” do dinheiro das contas inativas do FGTS, descarta a possibilidade
de ter essa linha de empréstimo.
Garantias. Com a economia patinando, o desemprego crescente e a
taxa básica de juros em queda, mas ainda num nível elevado, o diretor da
Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac), Miguel
Ribeiro de Oliveira, acredita que 2017 será um ano difícil para o crédito. Os
consumidores “colocaram o pé no freio” para assumir novos empréstimos nos
bancos, observa.
Essa cautela aparece nos resultados do crédito contraído pelo
consumidor junto aos bancos no Indicador de Demanda por Crédito do Consumidor
da Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito). No mês passado, a
procura do brasileiro por crédito no sistema financeiro caiu de 1,1% ante
dezembro de 2016, descontada a sazonalidade do período. Em relação a janeiro do
ano passado, o tombo foi bem maior: a procura por crédito recuou 7,6%. E em 12
meses até janeiro, a retração quase dobrou: 14,7%.
Resultados positivos na demanda por crédito, segundo a pesquisa da
Boa Vista SCPC, aparecem apenas nos financiamentos oferecidos pelas lojas, que
é o crédito não financeiro. Mesmo assim a alta ocorreu apenas de dezembro para
janeiro. No ano e em 12 meses houve retrações na procura.
Cautela. Ribeiro de Oliveira, da Anefac, lembra que os bancos não
podem parar de emprestar. “Por isso, serão mais cautelosos e vão procurar
operações mais seguras, com lastro”, diz.
Essa percepção é confirmada pelo diretor do Bradesco. Segundo
Silva, as linhas para consumidor prioritárias para o banco neste ano serão os
financiamentos consignados para aposentados e setor privado, além de créditos
cuja liberação dos recursos está ligada à garantia real de veículos e imóveis.
“Estamos apostando no consignado para trabalhadores do setor
privado e para aposentados”, afirma o diretor do Bradesco. Ele explica que o
banco detém a folha de pagamento de 6 milhões de assalariados e 10 milhões de
aposentados. “Somos o maior pagador de aposentados e de trabalhadores do setor
privado.”
O crédito consignado representa 63% da carteira de crédito pessoal
do banco e os aposentados respondem por quase a metade. No ano passado, o
carteira de crédito consignado da instituição como um todo cresceu 12,3%. A
expectativa para este ano é de um avanço maior, de 16%.
No ano passado, o crédito consignado foi a linha do Santander que
mais cresceu dentro do crédito destinado à pessoa física, ressalta Jurcevic. O
volume da carteira de consignado do banco somou R$ 18,7 bilhões e avançou
27,9%, superando de longe o crescimento do saldo da carteira de cartões (8,1%)
e do crédito imobiliário (4,7%).
Há um ano e meio o consignado tornou-se um vetor estratégico do
Santander. Além dessa linha que conta com garantia real, o banco colocou no
mercado duas outras que têm risco baixo de calote, pois o empréstimo está
vinculado a um imóvel ou veículo. “Estamos impulsionando o crédito com menor
risco”, diz o diretor.
“Os bancos não podem parar de emprestar. Por isso, serão mais
cautelosos e vão procurar operações mais seguras, com lastro.”
Com informação O Estado de São Paulo
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