sábado, março 11, 2017
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Pai adapta bicicleta e pedala quase 40 km por dia para levar filha na escola
Pai adapta bicicleta e pedala quase 40 km por dia para levar filha na escola
Secretaria diz que criança tem direito a ônibus, desde que
acompanhada.
Para não deixar que a filha de 3 anos fique longe dos estudos,
Juracir Ferreira Faustino de Souza adaptou uma bicicleta e pedala diariamente
quase 40 quilômetros para levar e buscar a criança da zona rural até a escola,
no Jardim Cruzeiro do Sul, em São Carlos (SP). Segundo a Secretária de
Educação, a menina tem direito ao
transporte escolar, mas por ter menos de 6 anos, precisa estar acompanhada por
um responsável.
Maria da Vitória dos Santos Rocha está matriculada no Centro
Municipal de Educação Infantil (Cemei) Otávio de Moura. Segundo o pai, um
ônibus que leva as crianças da zona rural para a escola passa próximo a
residência dele.
O trajeto começa ainda na madrugada para que a criança chegue a
tempo na escola (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)
Trajeto de bicicleta começa na madrugada
(Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)
“Não sei o motivo já que o ônibus passa na porta, pega meu
sobrinho, mas não pega ela. Eles alegam que não podem levá-la porque ela ainda
não tem quatro anos, a diferença é de cinco meses apenas”, disse.
Souza, natural da Paraíba, está desempregado e mora com a família
há três meses em São Carlos, em uma fazenda às margens da Rodovia Professor
Luis Augusto de Oliveira (SP-215).
O trajeto de ida, que começa por volta das 5h20 e dura uma hora e
meia, passa por estrada de terra, rodovia e trânsito urbano. Depois de deixar a
filha na escola, o pai retorna para casa e faz novamente o trajeto no final da
aula, para buscar a menina. “Quero dar a ela o que eu não tive, porque eu não
tive essa oportunidade”, declarou Souza.
Determinado, ele afirma que fará o percurso todo dia até conseguir
uma vaga no ônibus. “Não dá certo uma criança fora da escola, se não der certo
[o ônibus] eu continuo trazendo ela todo santo dia. Tem que ter a escola pra
criança”.
Para Souza, a alternativa oferecida pela prefeitura, que ele
acompanhasse a filha no ônibus, é inviável. “Teria que fazer um sacrifício, que
é o de ficar o dia todinho com fome na porta do colégio, aí quando ela saísse
vir embora junto”.
Trecho da rodovia (Foto:
Reginaldo dos Santos/ EPTV)Rodovia faz parte do percurso que o pai enfrenta
para levar filha a escola (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)
Adaptações
Na bicicleta coberta com uma cortina de banheiro e adaptada com uma
cadeirinha para a criança, pai e filha enfrentam frio, chuva e sol, além de
correrem risco de sofrer um acidente, pois parte do trajeto é realizado às
margens da rodovia.
Bicicleta adaptada para Juracir levar a filha até a escola (Foto:
Ana Marin/G1)
Bicicleta adaptada para Souza levar a filha até a
escola (Foto: Ana Marin/G1)
“Eu peguei umas madeirinhas da reciclagem e eu tinha essa cortina
em casa, aproveitei para poder proteger minha filha. Sem ônibus, eu tenho que me
virar do jeito que posso, estou seguindo em frente e vamos ver no que vai dar”.
O caso ganhou repercussão após ser divulgado em um grupo do
Facebook pela mãe de um colega de sala da criança.
A publicação ultrapassou mais de duas mil visualizações e o esforço
de Souza para que a filha não fique longe dos estudos comoveu os moradores da
cidade.
Juracir acompanha entrada da Maria da Vitória na CEMEI (Foto:
Reginaldo dos Santos/ EPTV)Souza acompanha a entrada da filha Maria da Vitória
no Cemei (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)
Prefeitura
Em entrevista à EPTV, o secretário de Educação, Nino Mengatti,
informou que por, não ter a idade mínima necessária, Maria da Vitória teria que
ser acompanhada por um responsável até a escola. "Nós não podemos permitir
que crianças com menos de 6 anos viagem desacompanhadas por questões que esses
ônibus não têm cadeirinha. É um risco para a criança e a família",
declarou.
Mengatti afirmou ainda que há outras crianças na cidade na mesma
situação. "Em nenhum momento a Secretaria deixou de acompanhar o caso ou
prestar assistência, o empenho nosso foi para resolver, mas isso não há como
mudar, não posso abrir uma exceção. Há milhares de pessoas desempregadas e nem
por isso deixam de acompanhar seus filhos".
*Sob a supervisão de Caliandra Segnini, do G1 São Carlos e
Araraquara.
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