É dentro de um laboratório de 100 metros quadrados que cinco
estudantes e um professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) desenvolvem
uma pesquisa que extrai do veneno da cobra cascavel e do sapo cururu uma
substância exclusiva dos animais da biodiversidade do Nordeste, que é até 200%
mais potente que a morfina.
Segundo a Secretaria de Saúde do Estado, o medicamento está
classificado como Componente Especializado da Assistência Farmacêutica de alto
custo. Só no ano passado, o Ceará gastou quase R$ 92 milhões na compra da
morfina para pacientes ambulatoriais.
O remédio é muito utilizado no controle da dor crônica ou aguda
intensa, no pós-operatório de cirurgias no tórax, rins ou tratamento contra o
câncer. A ideia da pesquisa surgiu há 10 anos, quando o professor do curso de
Medicina da Uece Krishnamurti de Morais estudava esses animais em Paris, na
França.
“Retornando a Fortaleza nós pegamos esses animais, nosso sapo,
nossa cascavel e verificamos que esses animais possuíam substâncias novas e
fantásticas nesses venenos. Resolvemos então isolar desses animais esses
analgésicos e tivemos sucesso pleno. Porque são substâncias muito potentes”,
avalia, em entrevista à Rádio Tribuna BandNews FM, na série de reportagens:
Pesquisas Científicas.
Apesar de a morfina ser um analgésico natural derivado do ópio, que
é uma planta, seu uso contínuo pode trazer efeitos colaterais para o corpo.
Segundo anestesiologista Fabiana Freire, uma das principais preocupações dos
profissionais da saúde é a dependência que o medicamento pode trazer ao corpo
humano.
“Esses outros efeitos de náusea, vômito, realmente prendem o
intestino. São preocupações desses efeitos que a gente sempre tem que ter com o
paciente que está usando cronicamente”, alerta.
Foi preciso usar o medicamento apenas por três meses para a técnica
de enfermagem Samara Lívia sentir os reflexos do uso contínuo da morfina no
corpo. O medicamento foi receitado porque a paciente sentia dores muito fortes
na cabeça, e não se conseguia identificar o seu problema.
“Uma dor insuportável
parecia que estava fechando a minha cabeça, esmagando, mediante a minha dor, a
doutora passou a morfina e foi o único medicamento que passou e aliviou essa
dor. Eu tive que fazer uma avaliação mais rígida para saber que o problema era
um dente ciso”, relembra.
A medicação era aplicada no hospital com o acompanhamento da
médica. Mas essa realidade pode mudar com os resultados da pesquisa. Diferente
da Samara, outros pacientes podem ter suas dores aliviadas sem adquirir as reações
adversas do tratamento.
Segundo a estudante de doutorado que faz parte da equipe de
pesquisa Gabriele Vitor, o novo analgésico pode ser usado também contra dor
neuropática, que é associada a doenças que afetam o Sistema Nervoso Central. Os
benefícios vão além do barateamento do remédio.
“O analgésico que estamos propondo não apresenta esses efeitos
colaterais, por isso ele é importante. Ele é mais potente de 100% a 200% que a
morfina”, explica.
Ela entrou para a equipe de pesquisa ainda esse ano e acha
extremamente relevante para seu currículo fazer parte de estudos tão
importantes como esse. A exemplo de Gabriele, outros estudantes dedicam horas
de suas vidas nesse projeto.
Ainda de acordo com o professor Krishnamurti, a presença deles na
pesquisa é essencial. O projeto, que tem parceria com o governo do estado e com
a empresa Genpharma, está na fase de testes toxicológicos em animais. Em
seguida a pesquisa vai ser encaminhada à Agência Nacional de Vigilância
Sanitária. A expectativa é de que até o fim de 2018 a aplicação seja feita no
homem.
O projeto, que tem parceria com o governo do estado e com a empresa
Genpharma, está na fase de testes toxicológicos em animais. Em seguida a
pesquisa vai ser encaminhada a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa). A expectativa é de que até o fim de 2018 a aplicação seja feita no
homem.
Ouça a reportagem da Rádio Tribuna BandNews FM completa:
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