A primeira suspensão da captação das águas do São Francisco,
determinada pela Agência Nacional de Águas (ANA), nessa quarta-feira, na data
que também se comemora o Dia do Rio, alerta que, diante da crise hídrica que
assola principalmente o Semiárido nordestino e cearense, é preciso muito mais
do que contar com a transposição ou com as chuvas, cada vez mais irregulares. O
reúso de esgotos na produção agrícola para o Interior e a dessalinização para
Fortaleza e sua Região Metropolitana são saídas, a médio prazo, para garantir o
abastecimento, o funcionamento da indústria e a produção no campo.
Foi o que apontaram especialistas de diversas áreas, reunidos no 3º
Simpósio Brasileiro de Recursos Naturais do Semiárido, realizado até hoje, no
Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
"De acordo com a agência, chove abaixo da média na bacia do
São Francisco há sete anos e devemos buscar outros meios para não só investir
em obras estruturantes, como poços, adutoras, barragens, em gerenciamentos dos
mananciais, como também aprender, de fato, a conviver com a seca", aponta
o professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Abelardo
Montenegro, doutor em recursos hídricos.
Segundo o especialista, a medida da ANA, em consonância com os
integrantes do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) dos
estados de Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas, tem exatamente
esse olhar: o de preservar os estoques de água nos reservatórios da bacia do
Velho Chico. A decisão de suspender as captações realizadas em corpos de água
superficiais perenes de domínio da União acontecerá às quartas-feiras até
novembro desse ano, quando está previsto o fim do período seco, mas poderá ser
prorrogada caso atrase o início do período de chuvas na região. Ela inclui
retiradas para todos os usos, inclusive perímetros de irrigação, mas exclui as
captações para abastecimento humano e dessedentação animal.
Por isso, aponta Montenegro, a transposição não é mais da
"redenção" do Nordeste. "A atual crise hídrica brasileira
encara, fundamentalmente, dois obstáculos: a escassez e a qualidade do recurso
hídrico. Por isso, é essencial pensar no controle das demandas e na oferta de
água, muitas vezes de qualidade inferior para setores da economia como a
agricultura irrigada, na produção de alimentos. Isso aliviaria, sem dúvida
nenhuma, a pressão sobre utilizações mais nobres como abastecimento doméstico,
humano e animal".
Além disso, ele cita o fortalecimento de políticas públicas.
"As tecnologias estão aí para serem implementadas, muitas em caráter
demonstrativo, mas em funcionamento, mas elas precisam ser apropriadas nas
comunidades de usuários e isso requer capacitação, ações de educação ambiental
e investimentos nas escolas rurais".
Algumas iniciativas no Ceará de agricultores familiares são
destacadas no evento. Um exemplo vem de Canindé. Na comunidade de Iguaçu, o
produtor Antônio Napoleão de Sousa Furtado desenvolve projeto de preservação
ambiental e captação de água. "Sem a terra, não somos nada", afirma.
Matas ciliares
Napoleão mora nas proximidades da microbacia do Rio Cangati, onde é
desenvolvido Projeto de Desenvolvimento das Reservas Hidro Ambientais (Prodham)
e conta, de um jeito simples, que, com isso, a comunidade local está conseguindo
recuperar matas ciliares, reduzir o processo de assoreamento em reservatórios;
aumentando a umidade do solo e a produtividade relacionada a agricultura de
sequeiro; além de incentivar, como essas iniciativas, a conscientização da
população quanto ao uso sustentável e preservação dos recursos naturais.
Fonte: Diário do Nordeste
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