O Tribunal de Justiça do Estado (TJCE) apresentou ontem (27), em
sessão na Ordem dos Advogados do Brasil - Secção Ceará (OAB-CE), a proposta de
reestruturação da organização judiciária no Estado. Envolto em discussões, o
projeto prevê a extinção de 34 comarcas vinculadas e a transferência de 26
unidades judiciárias de municípios com menores demandas para cidades
adjacentes. Para o TJCE, a medida deve garantir mais celeridade no julgamento
de processos e redução de gastos no Judiciário estadual. Já membros da OAB
acreditam que a medida pode dificultar o acesso da população à Justiça no
Interior.
De acordo com a proposta, comarcas vinculadas localizadas em 34
municípios deixariam de existir e teriam seus processos encaminhados para suas
respectivas sedes, onde seriam julgados pelos mesmos juízes responsáveis. No
caso das transferências, as unidades suprimidas seriam incorporadas a
estruturas de maior porte consideradas pelo TJCE pontos de estrangulamento, uma
vez que apresentam grande congestionamento processual. Estes locais absorveriam
as demandas das unidades transferidas e utilizariam a estrutura funcional para
reforçar o atendimento processual.
O projeto deve seguir para análise do pleno do TJCE e da Assembleia
Legislativa nas próximas semanas. Na visão do juiz Marcelo Roseno, coordenador
do Grupo de Trabalho que elaborou a proposta, a medida atende a duas
necessidades do Judiciário: distribuição racional dos processos e diminuição de
gastos.
"Não adianta ter uma unidade que recebe 1.200 processos por
ano e, a 8km de distância, uma que recebe um terço disso. Existem juízes com
demandas desiguais e isso acarreta demora no julgamento dos processos",
defendeu. "Além disso, quando diminui a capilaridade, obviamente há uma
redução dos custos, o que atende a outra necessidade, que é a contenção de
gastos", acrescentou.
Críticas
Membros do Conselho Seccional da OAB-CE se posicionaram contra a
proposta de forma quase unânime. Parte dos conselheiros defendeu que a entidade
ingressasse com ação judicial para tentar barrar o projeto caso seja aprovado
na Assembleia Legislativa e sancionado pelo governador Camilo Santana.
Segundo o presidente da entidade, Marcelo Mota, a proposta
representa retrocesso nas garantias de acesso da população à Justiça. Mota
também questionou se a medida teria, de fato, repercussão significativa no
orçamento do Judiciário.
"Não conseguimos enxergar o impacto financeiro que essas
modificações vão ter e se elas não vão obstacularizar o acesso ao Poder
Judiciário, lembrando que esse acesso está previsto na Constituição
Federal", destacou. "Não podemos só pensar em Fortaleza, mas também
naquele jurisdicionado que reside no interior do Estado e que poderá, nessas
alterações, vir a sofrer prejuízo grande", completou. Sobre a
possibilidade de ajuizar ação contra a proposta, Mota ressaltou que a ideia é
"prematura" e que a entidade está disposta a dialogar com o TJCE.
Marcelo Roseno salientou que a ideia do projeto não é dificultar o
acesso à Justiça e, sim, dar tratamento mais racional às demandas, promovendo
celeridade. "A manutenção da estrutura que temos hoje, com instalações
físicas, mas sem poder dar atendimento adequado, acaba gerando falsa sensação
de aceso. A pessoa querem respostas do Poder Judiciário, não só fazer
demandas", afirmou.
DN
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