terça-feira, novembro 14, 2017
ESQUEMA DE PROSTITUIÇÃO ATUA UNIDADES PRISIONAIS DO CEARÁ
Documentos que declaram uma união estável inexistente têm garantido
esquema de prostituição no Complexo Penitenciário de Itaitinga. Com a
documentação, as mulheres conseguem concluir cadastro de visitante nas unidades
para fazerem programas sexuais com detentos. Cada encontro custaria, em média,
R$ 200. No esquema, as garotas que já têm a carteira de visitante aliciam
outras para a atividade. A denúncia é feita por esposas de presos e por agentes
penitenciários.
Um servidor que pediu para não ser identificado explica que não há
como interferir na atividade, uma vez que as mulheres estão documentadas com a
carteira de visitante. “Elas fazem de oito a dez programas por visita, cada um
custando uma média de R$ 200. Normalmente, eles (detentos) pagam por meio de
transferência de conta bancária ou algum parente faz o pagamento”, relata a
fonte.
Para entrar em qualquer unidade do Complexo Penitenciário, é
necessário ser familiar ou cônjuge do preso. Por isso, as “giriquitas” — como
são chamadas as mulheres que mantêm relações sexuais com os detentos em troca
de dinheiro — registram uma falsa união estável com um detento. O interno com
quem a mulher tem união estável passa a ter “o direito” de manter relações
sexuais com a visitante toda vez que ela for à unidade.
Um agente penitenciário conta que presenciou uma mulher levando
outra para o primeiro programa. A novata chegou a desistir na entrada da
penitenciária, mas a outra a convenceu a entrar. “Isso foi pela manhã. Mas só a
vi saindo às 4 horas da tarde. Imagina quantos homens ela atendeu durante esse
tempo”, comentou o agente.
Esposas de detentos relatam indignação diante das “giriquitas”
porque, na visão delas, os detentos que contratam são, em sua maioria, casados.
Contraprova
O presidente do Conselho Penitenciário (Copen), Cláudio Justa, diz
que a prostituição no sistema penitenciário está relacionada às lideranças de
facções criminosas, que buscam as profissionais para os faccionários. Conforme
Justa, há conhecimento da situação em todo o sistema penitenciário. Ele
menciona casos em que os detentos são abandonados pelas esposas ou não são
casados e, por isso, buscam uma profissional do sexo. “O corpo de agentes
penitenciários percebe isso, mas é difícil inibir o acesso, pois elas são
documentadas. Seria necessária uma contraprova”, relata.
Procurada pelo O POVO, a titular da Sejus, Socorro França, afirmou
não ter conhecimento do esquema, mas ressaltou que é um caso a ser investigado.
Saiba mais
Um vídeo de 2015 mostra um espancamento em frente ao Complexo
Penitenciário de Itaitinga II (que abriga as CPPLs II, III e IV (onde são
distribuídas as principais facções criminosas). Uma jovem de cabelos negros e
vestido branco é cercada por mulheres, do lado de fora do Complexo. Ela é
espancada e tem parte da roupa arrancada. Um policial militar aparece tentando
conter a situação e a jovem é levada para a guarita. As imagens teriam sido
feitas para servirem de aviso para outras garotas de programa.
Fonte ligada à Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus) explica
que a giriquita costuma ficar em uma cela específica e lá recebe os clientes.
Quando questionada pelas companheiras dos internos, elas afirmam que estão
visitando parentes. “Uma vez, uma delas disse que visitava o irmão. E a esposa
perguntou logo o motivo de tantos homens entrando na cela. Ela respondeu que
ele tinha os “negócios” dele, relata.
O Povo
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