segunda-feira, julho 20, 2020
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'Guru espiritual' é denunciado por crimes sexuais durante reuniões de seita em Fortaleza
'Guru espiritual' é denunciado por crimes sexuais durante reuniões de seita em Fortaleza
Casos envolvendo denúncias de crimes sexuais praticados por um
homem que se intitula líder espiritual na cidade de Fortaleza são acompanhados
pelo Ministério Público do Ceará (MPCE). As vítimas apontam Pedro Ícaro de
Medeiros, o Ikky, como responsável por uma série de abusos sexuais, físicos e
psicológicos cometidos durante reuniões de uma seita espiritual.
'Batizado era no chuveiro da casa dele', conta vítima de guru em
comunidade de Fortaleza
Os abusos e agressões teriam ocorrido entre 2018 e o ano passado.
Os relatos foram exibidos na edição do Fantástico deste domingo (19). De acordo
com as vítimas, o estudante de Filosofia se apresentava como mestre espiritual
da Comunidade Afago e usava da posição dentro do grupo para cometer os crimes.
O MPCE requisitou ao delegado-geral da Polícia Civil do Ceará
instauração de inquérito policial para investigar o caso. O promotor de Justiça
Régio Lima Vasconcelos, da 144ª Promotoria do MPCE, afirmou que por meio da
análise preliminar do material recebido pelo órgão foi percebido que os fatos
relatados condizem com tipificações de diversos crimes.
"Se confirmados, podem ensejar a prática, em tese, dos delitos
de lesão corporal, estupro, charlatanismo e curandeirismo, previstos,
respectivamente, nos artigos 129, 213, 283 e 284 do Código Penal Brasileiro,
cuja eventual responsabilidade criminal não está associada à idade ou
aquiescência de possíveis vítimas. Somente a investigação, com o total
esclarecimento dos fatos noticiados, revelará a natureza das atividades da
referida comunidade", afirmou o promotor.
Pedro Ícaro não quis conceder entrevista pessoalmente ao Fantástico,
mas, por telefone, disse que no começo deste ano registrou Boletim de
Ocorrência alegando ser vítima de calúnia e difamação por parte de pessoas que
deixaram a comunidade. O suspeito negou as acusações de estupro. Segundo ele,
houve relações sexuais com alguns homens, mas elas eram consentidas.
Acusações
As vítimas relataram ao Fantástico diversos episódios envolvendo
Ikky na posição de agressor. Um jovem que optou por não ter seu nome divulgado
contou que o suspeito o obrigou a ter relações sexuais com ele: "Eu estava
chorando, sangrando e eu esperava dele um pouco de humanidade. O que ele fez
foi tirar minha blusa e colocar minha blusa na minha boca para que parasse de
chorar e ele pudesse continuar".
Já uma mulher, também de identidade preservada, comentou os
impactos negativos em sua saúde mental após as vivências no lugar. "Eu
entrei na Afago já num momento frágil psicologicamente. E fui ficando cada vez
mais frágil e culminou numa crise de depressão muito intensa", lamentou.
As acusações também miram a prática de estelionato. Segundo a
recepcionista Pamela Magalhães, a única a mostrar o rosto em entrevista ao
Fantástico, "a cada semestre ele aumentava o valor desses cursos, tanto
que quando eu entrei era R$ 50 e quando eu saí um determinado curso já era R$
1500".
Outro aluno disse que ao final do ciclo de aulas, não houve a
entrega do certificado. "A gente não teve nenhum tipo de certificado,
mesmo tendo sido prometido que nós seríamos certificados e poderíamos atuar
como terapeutas", relatou.
Ikky ofereceria ainda a terapia tântrica. Uma das vítimas disse que
o estudante a incentivou a fazê-la por conta de "muitas questões sexuais
mal resolvidas". O guru alegava que havia recebido formação do Prem
Hamido, que tem uma clínica de terapia corporal em Fortaleza. Porém, o
terapeuta desmentiu Ícaro durante entrevista ao Fantástico.
"Em nenhum momento, eu jamais fiz qualquer curso, que eu tenha
ministrado qualquer curso profissional pra ele. Em nenhum momento eu jamais
tive qualquer tipo de formação profissionalizante com ele", ponderou Prem
Hamido, complementando que atendeu o estudante como cliente uma única vez.
Não bastasse as violências praticadas, a comunidade Afago tinha
ainda um ritual de batismo que deixava cicatrizes. “Você era batizado com água
no chuveiro da casa dele e se você fosse teimoso ou desobediente, ou qualquer
uma dessas características rebeldes, né, era queimado com uma pedra quente
atrás da nuca, no pescoço”, contou um jovem.
Rituais
As vítimas relataram uma série de abusos sexuais, físicos e
psicológicos cometidos durante reuniões de uma seita espiritual — Foto: Arquivo
pessoal
As vítimas relataram uma série de abusos sexuais, físicos e
psicológicos cometidos durante reuniões de uma seita espiritual — Foto: Arquivo
pessoal
De acordo com os integrantes da comunidade, os jovens passavam por
provas violentas, como a troca de tapas, para subir de hierarquia. A reportagem
obteve um áudio em que o acusado convocava os alunos.
“Quero que vocês tragam na próxima aula (...) o que vocês
escreveram sobre levar um tapa na cara e que vocês tragam uma bacia (...) e uma
vela. Uma vela grossinha. A bacia tem que ser grande o suficiente pra você
poder mergulhar a tua mão ou alguma parte do teu corpo depois que eles forem
queimados”, dizia.
O resultado era um só: “As pessoas ficavam muito tontas. Choravam.
Eu sempre chorava”, revelou uma vítima. A justificativa para a sequência
dolorosa chamava a atenção. “Ele falava que era pro nosso crescimento pessoal e
espiritual".
Outro ritual era o “ovo luminoso”. Em um círculo mais restrito
cinco homens e duas mulheres são convocados para participar. Eles devem
obedecer as ordens do estudante. “Para as meninas, ele só pedia o sangue
menstrual. Mas pros rapazes, ele dizia que para participar do ovo luminoso,
tinha que ter dez sessões de sexo com ele”, detalhou uma das vítimas.
“O que você precisa para expandir sua identidade é seguir o que
você tem nojo, é seguir o que você tem aversão. Então fique com meninos, comece
a beijar outros rapazes e tenha relações comigo que sou seu mestre. A partir
disso, você vai conseguir essa expansão que você tá procurando”, conta um
homem, repetindo o argumento usado pelo guru para convencer os seguidores.
Outra versão
Pedro Ícaro nega as acusações — Foto: Arquivo pessoal
P
Pedro Ícaro negou as acusações de estupro. Segundo ele, houve
relações sexuais com alguns homens, mas elas eram consentidas.
"Muitas das acusações foram racistas, para ser honesto. Não me
chamavam só de mago negro, de magia negra. Eles falavam realmente que eu era um
fascista. Houve crimes com relação a isso: a eu ser homem, ser negro e ser
gay", contou Ícaro ao telefone acrescentando que só participavam dos
rituais pessoas que se apresentavam espontaneamente, abordou Ícaro.
O advogado de defesa, Klaus Borges, afirmou que se preparam para
protocolar ação em breve contra as pessoas que supostamente estariam caluniando
Pedro. Ele também afirmou que seu cliente nega ter cometido qualquer crime.
Já os gestores da Comunidade Afago divulgaram nas redes sociais
nota oficial afirmando estarem “chocados e abalados com toda a situação”.
Conforme a gestão, a dimensão das acusações feitas resultou em confusão
psicológica e emocional da liderança.
“A confusão que afeta todos nós, cria um cenário extremamente
delicado, dado que ainda não houve tempo de entender e ouvir todas as partes,
tendo muitos ainda não entendido as próprias emoções, dado que os respingos
dessa crise caíram sobre todos”, afirma o trecho divulgado.
A Comunidade também pediu desculpas e afirmou não compactuar com
qualquer tipo de abuso, violência e assédio, seja de teor psicológico,
simbólico ou sexual.
O Ministério Público do Ceará ressaltou ter instaurando um
procedimento administrativo denominado 'Notícia de Fato' com objetivo de
acompanhar os relatos. Sobre os fatos narrados serem caracterizados como seita,
o promotor disse que "somente com a investigação, com o total dos
esclarecimentos dos fatos noticiados, revelará a natureza das atividades da
referida comunidade".fonte g1 ceara
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