Dez estados e o Distrito Federal ampliaram medidas de isolamento
para tentar conter o avanço da Covid
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta sexta-feira
(26) em visita a Caucaia, na Grande Fortaleza, que daqui para a frente os
governadores que "fecharem seus estados" é que devem bancar o auxílio
emergencial (veja mais no vídeo acima). Ele, no entanto, não deu detalhes sobre
como isso seria feito.
Bolsonaro deu a declaração referindo-se àqueles que adotam medidas
mais restritivas para conter o avanço da pandemia de Covid-19, como implantação
de toque de recolher e proibição total de atividades não essenciais.
Avanço da Covid-19 deixa estados em situação crítica
Estados adotam restrições para conter alta recorde de casos e
mortes; veja lista
Estados vão apelar ao governo federal para que adote medidas
restritivas em todo o país
Auxílio emergencial: o caminho apontado por economistas para o
governo bancar o programa
"A pandemia nos atrapalhou bastante, mas nós venceremos este
mal, pode ter certeza. Agora, o que o povo mais pede, e eu tenho visto em
especial no Ceará, é para trabalhar. Essa politicalha do 'fica em casa, a
economia a gente vê depois' não deu certo e não vai dar certo. Não podemos
dissociar a questão do vírus e do desemprego", afirmou o presidente.
"São dois problemas que devemos tratar de forma simultânea e
com a mesma responsabilidade. E o povo assim o quer. O auxílio emergencial vem
por mais alguns meses e, daqui para frente, o governador que fechar seu estado,
o governador que destrói emprego, ele é quem deve bancar o auxílio emergencial.
Não pode continuar fazendo política e jogar para o colo do Presidente da
República essa responsabilidade."
Nesta quinta-feira (25), Bolsonaro havia afirmado que o governo
estuda pagar quatro parcelas de R$ 250 na nova rodada do auxílio. Segundo ele,
o benefício pode ser retomado em março (leia mais ao final desta reportagem).
O discurso do presidente em Caucaia foi feito em um momento em que
governadores e prefeitos adotam medidas mais rígidas para conter o avanço da
Covid-19 em várias partes do País. Nesta quinta, o Brasil teve recorde de
mortes registradas em um único dia: 1.582. Diversos estados estão sofrendo com
falta de leitos de UTI para atender os doentes.
"Esses que fecham tudo e destroem empregos estão na contramão
daquilo que seu povo quer. Não me critiquem, vão para o meio do povo mesmo
depois das eleições”, afirmou o presidente.
Presidente Jair Bolsonaro discursa em Caucaia, na Grande Fortaleza
— Foto: Kid Junior/SVM
Presidente Jair Bolsonaro discursa em Caucaia, na Grande Fortaleza
— Foto: Kid Junior/SVM
A visita ao Ceará ocorreu em um momento no qual o estado enfrenta
aumento de casos de coronavírus – por isso, foi alvo de crítica do governador
Camilo Santana (PT), que informou que não iria participar do evento.
O Ministério Público Federal apontou risco de aglomeração, o que de
fato ocorreu (leia mais abaixo). Também nesta sexta, Santana anunciou a
ampliação do horário do toque de recolher em todo o estado.
'Apavorados', 'entrando em colapso', 'semanas muito difíceis'... No
vídeo abaixo, veja falas de autoridades estaduais e municipais sobre o avanço
da pandemia:
VÍDEOS: autoridades relatam apreensão com UTIs lotadas e aumento da
Covid nos estados
VÍDEOS: autoridades relatam apreensão com UTIs lotadas e aumento da
Covid nos estados
Visita ao Ceará
Bolsonaro chega a Tianguá, no Ceará, e causa aglomeração nessa
sexta-feira (26).
Bolsonaro chega a Tianguá, no Ceará, e causa aglomeração nessa
sexta-feira (26).
O presidente participou nesta sexta da assinatura da retomada de
obras viárias em Tianguá, no Norte do Ceará, e visitou a duplicação da BR-222
em Caucaia.
Nos dois momentos da visita, houve registro aglomeração de
apoiadores do presidente e de pessoas sem máscara. Bolsonaro discursou para uma
multidão aglomerada na praça principal de Tianguá.
Grades que cercavam o local foram retiradas um pouco antes da cerimônia,
e o público correu para próximo da tenda em que foi assinada a ordem de serviço
da obra de travessia urbana, na BR-222, no município.
Bolsonaro desembarcou no aeroporto de Parnaíba, no Piauí, por volta
das 11h desta sexta. Lá, conversou com apoiadores que se aglomeravam ao seu
redor. Em seguida, a comitiva presidencial partiu em dois helicópteros para
Tianguá.
Apoiadores de Bolsonaro se juntam no aeroporto da Parnaíba (PI) e
tiraram fotos na passagem do presidente Jair Bolsonaro — Foto: Reprodução
Apoiadores de Bolsonaro se juntam no aeroporto da Parnaíba (PI) e
tiraram fotos na passagem do presidente Jair Bolsonaro — Foto: Reprodução
Sem presença do governador
Nesta quinta, o governador do Ceará, Camilo Santana, anunciou em
redes sociais que não estaria presente no evento ao lado de Bolsonaro. Sobre a
visita, disse "não compactuar com o que considera um grave equívoco".
Já o Ministério Público Federal no Ceará recomendou ao Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e às prefeituras de Fortaleza,
Horizonte e Tianguá que evitassem multidões na visita do presidente.
"Os números da pandemia em todo estado inspiram atenção
redobrada, permanecendo o isolamento social como política pública mais
eficiente e indispensável no combate à disseminação do vírus", disse o
MPF.
Esta foi a segunda visita de Bolsonaro ao Ceará como presidente. Em
setembro de 2020, já durante a pandemia, o presidente participou de ato sem
usar máscara e em meio a uma multidão.
Em visitas presidenciais recentes, como a que fez no Acre nesta
quarta-feira (24), também houve aglomeração de pessoas: em Sena Madureira, a
comitiva presidencial circulou em carro aberto e a população acompanhou o
trajeto.
Público que apoia Bolsonaro se aglomera em evento em Tianguá, no
interior do Ceará — Foto: Mateus Ferreira/TV Verdes Mares
Público que apoia Bolsonaro se aglomera em evento em Tianguá, no
interior do Ceará — Foto: Mateus Ferreira/TV Verdes Mares
'São 2 Poderes no Brasil', diz presidente
No discurso no Ceará, o presidente elogiou parlamentares e a
proximidade entre o Executivo e o Legislativo.
“Quando me refiro a vocês, eu digo que não somos três poderes do
Brasil, somos dois poderes, o Executivo e Legislativo trabalham juntos, um nada
faz sem o outro”
Sem citar diretamente o governador Camilo Santana, Bolsonaro disse:
“Aos políticos que me criticam, sugiro que façam o que eu faço.”
Também participaram do evento o ministro da Infraestrutura,
Tarcísio Gomes de Freitas e o diretor-geral do Dnit, Antônio Leite dos Santos
Filho, além de prefeitos e líderes regionais.
Obras no Ceará
Durante a cerimônia da qual participou Bolsonaro, foram assinadas
as ordens de serviço das seguintes obras:
Continuidade do viaduto da BR-116 na cidade de Horizonte, obra
parada há 16 anos. Valor: R$ 5,2 milhões
Duas obras de correção de curvas da BR-222 na cidade de Umirim,
obra parada há 5 anos. Valor: R$ 16,7 milhões
Travessia urbana no trecho da BR-222 na cidade de Tianguá, parada
há 10 anos. Valor: R$ 66.123.320,74
Duplicação do trecho da BR-222 entre o Porto de Fortaleza ao Porto
de Pecém.
Em janeiro, a TV Verdes Mares mostrou em reportagem a buraqueira do
trecho que vai receber melhorias em Tianguá (veja no vídeo abaixo).
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