Francisco Weber Nogueira de Barros, 32 anos, se divide entre a dor
da saudade da mulher e a atenção aos filhos. O caçula tem apenas cinco meses.
Por Lena Sena, G1 CE
08/08/2021 05h00 Atualizado
há um dia
Agricultor cearense cria os quatro filhos sozinho após morte da
mulher por Covid-19
Agricultor cearense cria os quatro filhos sozinho após morte da
mulher por Covid-19
O Dia dos Pais deste ano será ainda mais marcante para o agricultor
cearense Francisco Weber Nogueira de Barros, 32 anos, que viu a paternidade se
tornar mais importante ainda ao ficar responsável pela criação dos quatro
filhos, após a morte da companheira por Covid-19.
Eliana Sueli de Lima, 36 anos, faleceu no dia 20 de abril deste
ano, na Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza. Desde então, Francisco se
divide entre a dor da saudade da mulher e o desafio de cuidar dos filhos Carlos
Eduardo, cinco meses, Ezequiel, três anos, Paulo, cinco anos e Riquelme, 13. O
caçula desfrutou dos cuidados da mãe apenas por dois meses, antes que ela
apresentasse os primeiros sintomas da doença.
“Foi muito doloroso, você passar oito anos com uma pessoa e em
questão de minutos não ter mais. Você não sabe como dar resposta para os
filhos, como explicar que a mãe deles não vai voltar”, disse Francisco.
Francisco Weber, 32 anos, a mulher Eliana Sueli de Lima, que
faleceu de Covid-19 aos 36 anos, e três filhos do casal. — Foto: Arquivo
pessoal
Francisco Weber, 32 anos, a mulher Eliana Sueli de Lima, que
faleceu de Covid-19 aos 36 anos, e três filhos do casal. — Foto: Arquivo
pessoal
As três crianças mais novas são frutos do amor do casal. Amor esse
estendido por Francisco a Riquelme, filho de um relacionamento anterior de
Eliana, que mesmo após a morte da mãe continua sendo cuidado pelo padrasto com
os irmãos. A mulher também deixou uma filha de 20 anos, que já é casada.
“Ele também é meu filho, não tem diferença. Quando a mãe dele
morreu ele quis continuar morando comigo e me ajuda com os irmãos. Também
mantenho contato com a irmã dele, pois somos todos uma família”, relatou o
homem.
Rede de apoio
Carlos Eduardo, de 5 meses, Ezequiel, de 3 anos, Paulo, de 5 anos e
Riquelme, de 13 anos, são criados pelo pai após a morte da mãe. — Foto: Arquivo
pessoal
Carlos Eduardo, de 5 meses, Ezequiel, de 3 anos, Paulo, de 5 anos e
Riquelme, de 13 anos, são criados pelo pai após a morte da mãe. — Foto: Arquivo
pessoal
Francisco Weber mora com os filhos em uma casa simples, no Bairro
Sabiaguaba, e garante o sustento da família com o que ganha em uma horta, onde
trabalha diariamente. Quando tem que sair para o trabalho, o agricultor conta
com a ajuda da mãe e das cunhadas, que se revezam nos cuidados das crianças.
“Saio de manhã cedo e deixo eles na casa da minha mãe. Na hora do
almoço eu volto, fico um pedaço com eles e quando retorno do trabalho a gente
vai para casa”, afirma.
A mãe de Francisco, Ana Célia Nogueira de Barros, 56 anos, teve que
deixar de trabalhar para se dedicar aos netos, o que fez com que a situação
financeira da família ficasse ainda mais difícil.
"Ele deixa dinheiro para as coisas das crianças e me ajuda.
Tenho muito orgulho dele ser um pai amoroso. Quando ela morreu eu sofri junto
com ele, porque a gente pensava logo nas crianças", disse a avó dos
meninos.
Última conversa: 'volto para ver vocês'
Três meses depois da morte da mãe, os filhos continuam perguntando
ao pai quando ela vai voltar para casa. — Foto: Arquivo pessoal
Três meses depois da morte da mãe, os filhos continuam perguntando
ao pai quando ela vai voltar para casa. — Foto: Arquivo pessoal
Antes de morrer, Eliana ficou internada por 14 dias, parte deles em
uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no Bairro Paupina e, em seguida, na
Santa Casa de MIsericórdia, para onde foi transferida com 75% dos pulmões
comprometidos pela Covid, segundo Francisco.
"No dia que ia ser transferida ela me ligou e disse: 'Amor
estou sendo transferida, mas não se preocupa não, que eu volto para ver vocês'.
Foi a última vez que falei com ela", relembrou.
No hospital, a mulher chegou a ser intubada, mas não resistiu as
complicações causadas pela doença.
“Ela já estava com o pulmão muito comprometido. O médico falou que
a morte foi causada por um coágulo de sangue formado durante a intubação. Ainda
tentaram reanimar, mas não teve jeito”, relatou Francisco.
A perda recente da mãe ainda faz os filhos terem esperança de que
um dia ela vai voltar para casa.
“Eles perguntam quando a mãe vai voltar do hospital, principalmente
os mais novos, que ainda não entendem, mas explico que agora a mãe deles está
no céu”, finalizou o pai.
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