Legenda: Auxílios voltados a estudantes de famílias beneficiárias
foram propostas por cearenses em emendas à MP
Foto: Camila Lima
A Medida Provisória (MP), apresentada pelo Governo Federal, que
propõe a criação de um novo benefício social, que pretende substituir o Bolsa
Família, já acumula uma série de emendas parlamentares propondo mudanças.
Chamado de Auxílio Brasil, o programa foi apresentado ao Congresso Nacional no
dia 9 de agosto e já recebeu mais de 450 emendas modificativas. Deste total, 25
partiram da bancada federal do Ceará.
Cinco dos 25 parlamentares cearenses - 22 deputados federais e três
senadores - apresentaram propostas de alterações, segundo registros da Câmara e
do Senado. As emendas têm foco, principalmente, no apoio aos trabalhadores
informais e em mecanismos voltados à Educação.
A MP também é alvo de críticas. Entre elas, à falta de
especificidade quanto aos critérios para concessão do benefício e ao caráter
"eleitoreiro" que estaria por trás da reformulação. Já aliados do
Governo enfatizam que programas de distrituição de renda são necessários no
atual momento do País, diante dos impactos da pandemia de Covid-19.
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O deputado Idilvan Alencar (PDT), que apresentou 15 emendas ao
texto, é um dos críticos à reformulação do programa. "Bastaria alterar a
lei atual do Bolsa Família, acabando com a fila de beneficiários, reajustando a
linha de pobreza e aumentando o valor do benefício", propõe.
Na lista de mudanças propostas por ele, uma tem o objetivo de
substituir a criação de um novo programa pela ampliação do Bolsa Família. O
pedetista, contudo, não acredita que o Governo irá recuar da decisão.
"E usará todos os instrumentos que tem para aprovar a Medida
Provisória", completa. "Vai gerar uma confusão danada, gente correndo
para a Caixa achando que perdeu o benefício. A mudança de nome é meramente
política, não política pública", avalia.
PROPOSTAS DE MUDANÇA NA MP
Para o deputado André Figueiredo (PDT), para fugir do que considera
caráter "eleitoreiro" da Medida Provisória, será necessário discutir
"a miúde" o texto da proposta do Executivo.
"Nós vamos ter que discutir com muita seriedade, para que não
tenha inalidade apenas eleitoreira, mas que sirva para diminuir a penúria da
população".
André Figueiredo (PDT)
Deputado federal
Com a tramitação em urgência da proposta, o tempo de discussão deve
ser mais curto. O período para apresentação de emendas parlamentares, por
exemplo, já foi encerrado. A expectativa é que o texto seja votado até outubro,
já que o Governo Federal pretende pagar a primeira parcela do auxílio já em
novembro.
Foram apresentadas, ao todo, 461 emendas. As 25 da bancada federal
do Ceará foram protocoladas tanto por deputados federais como por senadores.
Algumas delas com o objetivo de definir as regras e regulamentos do Auxílio
Brasil.
Entre as definições está a do valor do benefício. Em textos
separados, André Figueiredo e José Guimarães (PT), por exemplo, propuseram que
seja definido o valor mínimo do auxílio, algo que não veio definido na proposta
enviada pelo Governo. Nas emendas apresentadas, é proposto o valor mínimo de R$
600.
“Essa Medida Provisória não fixa valor nenhum, nem estabelece
critério algum para a criação desse Auxílio Brasil. E isso é uma armadilha. É o
mínimo que o Congresso tem que fazer para dar dignidade para essas pessoas que
estão passando fome”.
José Guimarães (PT)
Deputado federal
Outra mudança proposta por mais de um parlamentar cearense é a
supressão do artigo da MP em que fica autorizado desconto do auxílio para
pagamento de dívidas do beneficiário com instituições financeiras.
"Isso é absurdo. Você está distorcendo a função do programa de
renda continuada, que é atingir uma pessoa que está em uma situação de pobreza
e que precisa desse valor da integralidade", critica Célio Studart (PV).
Ele, assim como André Figueiredo, propôs a retirada desse trecho da proposta.
ESTÍMULO AOS ESTUDANTES
Área de destaque no Ceará, a Educação também tem destaque nas
mudanças propostas pelos parlamentares cearenses. Ex-secretário de Educação do
Estado, Idilvan Alencar propôs a criação de dois benefícios dentro do Auxílio
Brasil.
O primeiro deles, chamado Auxílio de Conclusão de Etapa
Educacional, seria pago a estudantes quando concluíssem, por exemplo, o Ensino
Fundamental ou o Ensino Médio - desde que sejam parte de famílias que se
enquadrem nos requisitos da Medida Provisória.
Em outra emenda, o parlamentar propôs a criação do Bolsa Família
como forma de assistência estudantil. Por último, ele sugeriu excluir o auxílio
criança cidadã, que tem como objetivo ajudar no pagamento, pelas famílias
beneficiadas, de creches da rede privada.
"A MP não se orienta para as creches públicas e sequer para as
conveniadas. Trata-se de injeção de recursos em estabelecimentos privados com
fins lucrativos e mesmo com autorização provisória", explica na
justificativa da emenda.
O senador Tasso Jereissati (PSDB) também propôs mecanismo de
incentivo a estudantes, a partir da criação de um programa de apoio que ofereça
bolsas de estudos a "jovens de alto potencial acadêmico".
25
Emendas foram apresentadas por cearenses à Medida Provisória que
cria o Auxílio Brasil.
Além disso, crianças e adolescentes pertencentes a famílias
beneficiárias do auxílio poderiam ser incluídas no Programa Mais Educação,
segundo o que foi proposto pelo tucano. Seria feito um depósito em poupança
para os estudantes, que poderiam sacar o dinheiro após a conclusão do Ensino
Médio.
APOIO AO TRABALHADOR INFORMAL
O impacto da pandemia de Covid-19 sobre a renda das famílias
brasileiras também foi uma preocupação. Tasso propôs a criação de mecanismos
voltados a trabalhadores informais que possuem mais volatilidade nos
rendimentos e são impactados por momentos de crise, como o vivido desde 2020.
"A forma que se mostra mais adequada para atender essas
famílias não é por meio de transferência de renda em caráter regular, mas sim
pela instituição de uma espécie de seguro que suplemente sua renda nos momentos
de necessidade, quando esta se reduz", detalha a justificativa da emenda.
O senador propõe a criação da Poupança Seguro Família, que seria
destinada a famílias com maior capacidade de geração de renda, mesmo que não
sejam beneficiárias do benefício. Isso seria feito a partir dos dados do
CadÚnico, que seria ampliado para toda a população.
"Para os vulneráveis capazes de gerar renda, a melhor
estratégia é estimulá-los a revelar a sua renda, para que não se gaste
excessivamente com a complementação. Nesse sentido, a proteção social aos
trabalhadores informais exige desenho apropriado", completa.
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