(crédito: Minervino Junior/CB)
À medida em que a campanha de imunização contra a
covid-19 avança no Distrito Federal, o setor de serviços vive sinais de
recuperação. O segmento, que foi um dos mais afetados durante a pandemia, passa
por crescente alta nos últimos quatro meses. Segundo Renato Costa Coitinho,
pesquisador da Gerência de Contas e Estudos Setoriais da Companhia de
Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), a categoria apresentou resultados positivos
desde abril. Em junho, o setor apontou alta de 23,2% em relação ao mesmo
período do ano passado. No acumulado de 2021, o crescimento é de 4%.
Entre maio e junho, houve alta de 3,3% no DF, enquanto
que a média nacional foi de 1,7%. “Tivemos uma recuperação em todos os
segmentos, em comparação a maio de 2020. Atualmente, o setor de serviço está no
mesmo patamar econômico registrado em agosto de 2019, período pré-pandemia”,
explica o pesquisador. No entanto, no acumulado dos últimos 12 meses, o setor
apresenta uma retração de 4,7%. Porém, apesar da baixa, o índice apresenta uma
melhora. Em fevereiro de 2021, o acumulado era de -12,5%.
Um dos segmentos que sofreu mais impacto durante a
pandemia foi o de serviços à família, que inclui as atividades de alimentação,
hotelaria, bares, salões de beleza, entre outras ocupações que prestam
atendimento direto à população. De acordo com a Pesquisa Mensal de Serviços
(PMS), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
essa categoria teve alta de 41,9% em junho, quando comparado ao mesmo período
de 2020.
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Na avaliação de Renato Coitinho, apenas o serviço de
telecomunicações, que inclui as empresas de telefonia e internet, tiveram uma
estabilidade durante a pandemia. As atividades como de transporte, auxiliares,
correio e outros segmentos do setor apresentaram retração em 2020. O economista
Carlos Alberto Ramos destaca que os hotéis, restaurantes e cabeleireiros foram
os mais penalizados pela crise ocasionada pela covid-19. “Agora, o setor vai
recuperar tudo que perdeu. Mas ainda teremos desafios pela frente. Tudo vai
depender de como a população irá se comportar, se vão voltar a consumir os
serviços da forma que era antes. A vacinação pode impactar positivamente”,
ressalta o especialista e professor da Universidade de Brasília (UnB). Para
ele, a alta inflação poderá ser um fator negativo nos próximos meses para a
categoria, com o aumento de impostos.
O presidente do Sindicato Patronal de Hotéis,
Restaurantes, Bares e Similares (Sindhobar), Jael Antônio da Silva, pontua que
o último ano e meio foi bem complicado para os empresários do setor. “Tivemos
várias empresas endividadas, mais de 3 mil negócios fecharam as portas e 20 mil
pessoas ficaram desempregadas. Estamos longe do que se faturava em 2019. Os
hotéis estão sofrendo ainda mais, com o turismo fraco em Brasília e com o ramo
empresarial em home office. Agora que uma luzinha está se acendendo no fim do
túnel”, afirma. Para ele, a recuperação significativa do segmento só acontecerá
em 2022.
Nesta semana, Jael pretende encaminhar um documento ao
governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), solicitando a liberação do
funcionamento dos serviços de acordo com o horário que consta no alvará, além
de pedir que o drive-thru funcione 24h. Atualmente, bares e restaurantes estão
funcionando até 0h, e a operação de delivery até 1h — segundo o decreto
publicado no Diário Oficial do DF, em 24 de junho.
Para o presidente do Sindicato dos Salões, Institutos e
Centros de Beleza e Estética do Distrito Federal (Simbeleza), Gustavo
Nakanishi, a categoria foi a mais afetada no setor de serviços durante a
pandemia. “Ficamos por mais tempo fechado durante o lockdown. Foram quatro
meses totalmente fechados, e dois meses com os serviços funcionando
parcialmente”, afirmou. Segundo ele, a nível nacional, cerca de 60% dos
empresários do segmento da beleza ficaram endividados durante a pandemia. “No
DF, o cenário se assemelha bastante. Estamos em uma retomada muito lenta. Agora
que vimos um crescimento. Porém, os salões de beleza que trabalhavam com
eventos estão operando com 40% do faturamento total”, avalia Gustavo.
Adaptações
A empresária Adriana Ribeiro, 43 anos, proprietária do
grupo Afrochic — espaço especializado em beleza afro —, conta que precisou se
reinventar para manter o negócio durante a pandemia. “Ficamos com as portas
fechadas 108 dias. Não quis arriscar a trabalhar na clandestinidade, era um
vírus novo, não sabíamos muita coisa sobre. E quando percebi que não ia voltar,
comecei a criar estratégias”, relata a empreendedora. A loja de produtos para
cabelos crespos e cacheados que funcionava no salão, situado no Riacho Fundo I,
migrou para a internet, atingindo novo público. “Também começamos com a
consultoria on-line, com atendimento individual das nossas profissionais para
dar o diagnóstico do cabelo da cliente e indicar os produtos mais adequados”,
explica Adriana.
De acordo com ela, o contato mais próximo com as clientes
no meio virtual fez com que a marca aparecesse mais. “Muitas clientes que
estavam em casa, sem poder ir ao salão para alisar o cabelo, estavam se
descobrindo com o cabelo natural, cacheado. Quando reabrimos, tivemos um
aumento de 30% no faturamento no mês de julho, comparado ao mesmo período de
2019. Não esperávamos essa procura”, afirma a empresária, que tem conseguido
manter uma alta de 10% a 20% ao longo dos últimos meses. No entanto, o cenário
está longe do ideal. “Estamos ainda no processo de recuperação. Até pela
limitação de clientes, antes eram 60 clientes por dia. Agora, está uma média de
45 e 50 atendimentos”, pontua.
Além das consultorias, Adriana Ribeiro implementou o
Instituto Afrochic, que oferece curso on-line de especialização nos cuidados de
cabelos crespos e cacheados. A proposta já estava pronta para ser lançada antes
da pandemia. Segundo a empreendedora, as aulas também seguraram um pouco as
contas do negócio. Apesar das dificuldades, ela não precisou demitir nenhum funcionário.
Inclusive, contratou quatro colaboradores. Animada, Adriana afirma que toda a
equipe está vacinada com pelo menos a primeira dose da vacina contra a
covid-19.
Delivery
Para Vinicius Campos, 43, o delivery foi o que manteve
sua pizzaria durante a pandemia. “Triplicou o faturamento. Tudo que eu perdi de
um lado, com a falta de funcionamento do salão, ganhei de outro. De certa
forma, a pandemia fortaleceu uma parte do meu negócio, como o delivery”,
destacou o empresário. O impacto com despesas de equipe, aluguel e queda das
vendas foi bem pequeno, pois ele havia fechado o estabelecimento físico no
início de 2020 por questões de negócio. E tinha programado uma reforma, que
duraria seis meses, no novo espaço. “Então, no período que teve o lockdown, não
estava com o restaurante aberto. Não sofri, nesse sentido. Mas conheço vários
negócios que passaram por dificuldade. Os restaurantes self-service, por
exemplo, não estavam preparados para o delivery”, aponta.
Com a inauguração do novo espaço, Vinicius contratou 11
funcionários nos últimos meses. De acordo com ele, a tendência é esse número
aumentar, pois o salão que ele operava com quatro garçons, atualmente, funciona
com dois pela baixa procura do estabelecimento presencial. Para o próximo ano,
ele pretende crescer o negócio com a abertura de uma sanduicheria ao lado do
restaurante. Segundo o empresário, na Vinny’s Pizzeria Napoletana, localizada
na Asa Sul, todos os funcionários estão vacinados com pelo menos a primeira
dose do imunizante contra a covid-19.
Palavra de especialista
Reinvenção econômica
O que a gente pôde perceber em 2020 e 2021, foi uma
ressignificação das relações de trabalho e emprego. Grandes empresas tiveram de
se reinventar, nisso tiveram que enxugar os seus gastos mensais, e a gente viu
muita gente perdendo seus empregos. Ao mesmo tempo, a gente vê um aumento
significativo na abertura de empresas no Distrito Federal e no Brasil, como um
todo, o que mostra que as pessoas estão saindo do mercado informal e indo para
formalização. A gente também percebe as pessoas se reinventando
independentemente da relação de emprego ou de uma empresa, para poder gerar
renda. E isso acontece normalmente com uma combinação de autoconhecimento e de
criatividade, entendendo o que está rolando no mercado, quais foram essas
mudanças de hábitos de consumo e de relações, e o que se pode aproveitar,
combinado ao que a pessoa gosta de fazer. Dessa forma, você consegue aproveitar
uma oportunidade e resolver um problema do mercado, gerando, no final das contas,
dinheiro.
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