Reajuste de 33% anunciado pelo governo para professores do ensino
básico eleva o piso de R$ 2.886 para R$ 3.845. Prefeitos e governadores apontam
dificuldades para pagar.
Por Kevin Lima *, g1 — Brasília
27/01/2022 18h07 Atualizado
há 58 minutos
O reajuste de 33,23% para professores da rede pública de educação
básica anunciado nesta quinta pelo presidente Jair Bolsonaro eleva de R$ 2.886
para R$ 3.845 o piso salarial nacional da categoria.
O reajuste do piso está previsto em lei de 2008. Segundo o texto, o
valor mínimo para os docentes da educação básica deve ser reajustado anualmente
em janeiro.
Bolsonaro anuncia reajuste de 33% no piso salarial de professores
Bolsonaro anuncia reajuste de 33% no piso salarial de professores
Confira abaixo dez perguntas e respostas sobre o reajuste do piso.
1. O que é o piso salarial?
Piso salarial é o valor mínimo que profissionais de uma determinada
categoria devem receber. Neste caso, trata-se do vencimento mínimo para os
profissionais do magistério público da educação básica em início de carreira. A
regra foi criada por uma lei de 2008 e é válida em todo o país.
2. Qual é o motivo do reajuste?
A norma estabelece que os reajustes devem ser anuais. “Isso existe
para equiparar os salários dos professores da educação básica pública aos
salários de outros profissionais com escolaridade equivalente”, explicou o
secretário de Imprensa e Divulgação da Confederação Nacional dos Trabalhadores
em Educação (CNTE), Luiz Carlos Vieira.
3. Como é calculado o valor do piso?
O valor do piso do magistério é calculado com base na comparação do
valor aluno-ano do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) dos dois últimos anos. O
valor aluno-ano é o valor mínimo estabelecido para repasse do Fundeb para cada
matrícula de aluno na educação básica por ano. Em 2021, o valor aluno-ano foi
de R$ 4.462,83. Em 2020, R$ 3.349,56. A diferença percentual entre os dois
valores é de 33,23%, exatamente o percentual de reajuste anunciado pelo governo
federal. “Lógico que isso está abaixo do que merecemos, do que a categoria
precisa. Mas é a melhor forma de valorizar os profissionais da educação”, disse
Luiz Carlos Vieira
4. Quem tem direito ao piso?
O piso atende a profissionais com formação em magistério em nível
médio e carga horária de trabalho de 40 horas semanais. O entendimento adotado
pela CNTE é que o valor deve ser observado no vencimento de professores,
diretores, coordenadores, inspetores, supervisores, orientadores e planejadores
escolares em início de carreira. O piso não alcança secretários, merendeiros e
outros profissionais que não estão enquadrados na carreira do magistério.
Segundo o Ministério da Educação, mais de 1,7 milhão de profissionais serão
beneficiados.
5. Como é o salário de professores no Brasil em comparação com o de
outros países?
O relatório "Education at a Glance 2021", elaborado pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e divulgado em
setembro passado, concluiu que a média inicial do salário de professores no
Brasil (US$ 13,9 mil anuais) é a menor entre 40 países analisados. O cálculo
foi feito com base na média do salário inicial dos professores dos anos finais
do ensino fundamental.
6. O piso nacional vale para a rede privada de ensino?
O reajuste do piso salarial não atinge a rede privada de ensino. É
limitado aos profissionais vinculados a instituições de ensino infantil,
fundamental e médio da União e dos estados e municípios. No entanto, na
avaliação da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, a
recomposição também pressiona a rede privada a valorizar profissionalmente o
professor.
7. O aumento será imediato?
Segundo o secretário de Imprensa e Divulgação da CNTE, Luiz Carlos
Vieira, o reajuste é automático e deverá ser constar do salário referente ao
mês de janeiro, a ser pago em fevereiro. Apesar disso, estados e municípios
ainda podem demorar a conceder o reajuste. “Com a formalização do novo piso,
todos os dirigentes devem conceder. Mas isso ainda pode passar por discussão
nas prefeituras e nos estados. Se houver demora, o reajuste deve ser concedido
de maneira retroativa”, disse Vieira.
8. Por que estados e municípios reclamam do reajuste?
Estados e municípios avaliam que há discordância jurídica acerca de
como o reajuste deve ser calculado. A questão teve início com a aprovação do
novo Fundeb, no ano passado. O entendimento é que a lei do piso está vinculada
ao antigo Fundeb e, por essa razão, não seria mais válida. Neste mês, o próprio
Ministério da Educação divulgou que, após consulta feita à Advocacia-Geral da
União, concluiu-se que “é necessária a regulamentação da matéria por intermédio
de uma lei específica”. Nesta quinta, ao anunciar o reajuste do piso, o
Ministério da Educação informou que a definição do valor se deu após
"estudo técnico e jurídico", que, segundo a pasta, "permitiu a
manutenção do critério previsto na atual Lei 11.738 de 2008”.
9. Qual o impacto financeiro para estados e municípios?
Em dezembro passado, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM)
avaliou que, se adotada a regra de 2008 para o reajuste, o impacto financeiro
seria de R$ 30 bilhões para as finanças dos municípios. Em nota divulgada nesta
quinta, a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) afirmou que o reajuste
“desequilibrará as contas públicas, podendo levar ao colapso nos serviços
essenciais, à inadimplência e a atrasos de salários”. O g1 procurou o Conselho
Nacional de Secretários de Educação (Consed) para saber se havia uma avaliação
técnica do impactos financeiro nos estados, mas a entidade informou que ainda
discutia o tema.
10. O caso pode ir parar na Justiça?
Pode. O motivo para uma eventual judicialização é o impacto
financeiro que o reajuste provocaria para estados e municípios. Entidades como
a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), a Frente Nacional de Prefeitos
(FNP) e o Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed) ainda não se
posicionaram oficialmente, mas internamente avaliam a possibilidade de
judicializar o tema. Segundo as entidades, houve “pouquíssimo” diálogo com o
governo sobre o tema.
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