ENTREVISTA | Eduardo Marini, do R7
RESUMINDO A NOTÍCIA
Projeto Sextou Solidário arrecadou mais de R$ 2,6 milhões
em 72 horas
Campanha liderada por Maderite doou mil geladeiras, mil
colchões, mil camas e mil fogões
Influenciador tem 47 anos, é casado e pai de duas filhas
e um filho
Alegria das reuniões semanais com os amigos contagiou os
seguidores
Maderite transformou brincadeira com amigos em bom
negócio
Maderite transformou brincadeira com amigos em bom
negócio
ARQUIVO PESSOAL
Sextou, verbo forjado na criatividade de baladeiros, animados e boêmios, tomou conta do país. Mas, hoje, ninguém incorpora a alegria do termo com mais força do que o empresário e influenciador Henrique Costa Ferreira, o Henrique Maderite.
Tudo começou como uma brincadeira desse empresário da construção civil de 47 anos, nascido em Belo Horizonte e morador de Nova Lima, na região metropolitana da capital mineira. Ele e seus amigos próximos (“empresários, profissionais liberais e alguns vagabundos, como em todo grupo de chegados”) costumam se encontrar todas as sextas-feiras, na hora do almoço, em bares e restaurantes de Nova Lima, para almoçar, tomar uma gelada, relaxar após a semana de trabalho e pôr o papo em dia.
Tempos atrás, Maderite começou a gravar os encontros e a enviar os vídeos aos ausentes, “para os vagabundos sentirem o que estavam perdendo”. As postagens com a alegria e a descontração das reuniões vazaram para outros públicos, viralizaram, e a coisa explodiu.
Atualmente, além de sua construtora, o empresário lidera, na internet, o projeto Sextou – Sexta-feira Mei Dia, com o final do mei assim mesmo, engolido na delicadeza do mineirês.
Simpático e divertido, Maderite conta hoje com 20 parceiros contratantes e patrocinadores fixos e outros 20 pontuais no projeto, que envolve 12 funcionários. Está prestes a bater no 1,2 milhão de seguidores no Instagram, reúne mais alguns milhares no TikTok e mantém um site, www.henriquemaderite.com, para venda de produtos e serviços com suas marcas. "Hoje sou pago para comer e beber", diz ele.
Neste papo com o R7 Entrevista, Maderite revela detalhes de sua trajetória, do acaso que permitiu a criação do projeto e da admirável campanha Projeto Sextou Solidário, liderada por ele, na internet, que arrecadou mais de R$ 2,6 milhões para vítimas das chuvas e enchentes do início do ano no Brasil. Entre outras ações, doou mil camas, mil geladeiras, mil colchões e mil fogões a 1.281 famílias. Coisa de amigo raro. Acompanhe:
Fale um pouco sobre a sua trajetória.
Henrique Maderite – Meu nome é Henrique Costa Ferreira,
mas sou conhecido como Henrique Maderite. Comecei a trabalhar aos 13 anos, numa
indústria mineira de laticínios, com meu pai, que era representante comercial.
Eu era meio hiperativo, mas não queria muito saber de escola. Fiquei um tempo
nessa empresa, na área de vendas. Depois, casado, trabalhei com construção
pré-moldada e montei, com meu irmão, uma construtora dedicada a casas
populares. Morei no Pará, trabalhamos no Brasil inteiro.
O objetivo é cultuar a amizade, a alegria e a necessidade de se divertir. Todos devemos cumprir nossas obrigações e deveres, mas é importante recarregar baterias para iniciar a semana seguinte com força e alegria. O que faz a vida ser valiosa é o equilíbrio. Não dá para sextar todos os dias.
HENRIQUE MADERITE
Como o projeto na internet começou?
Antes de tudo, é fundamental reforçar que o objetivo é
cultuar a amizade, a alegria e a necessidade de se divertir. O encontro no bar,
a gelada para descontrair, tudo isso é o entorno, que deve ser curtido de
maneira saudável. Todos devemos cumprir nossas obrigações e deveres, mas é
importante também recarregar baterias para iniciar a semana seguinte com força
e alegria. O que faz a vida ser valiosa é o equilíbrio. Não dá para sextar
todos os dias.
Na entrega das doações de sua campanha às vítimas das enchentes
Na entrega das doações de sua campanha às vítimas das
enchentes
ARQUIVO PESSOAL
Feita a observação — perfeita por sinal —, de novo: como o projeto na internet começou?Moro em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte. Há sete anos, mais ou menos, eu e um grupo de amigos — profissionais liberais, empresários e também uns adoráveis vagabundos, como em todo grupo de amigos [risos] — começamos a nos encontrar, sempre às sextas-feiras, na hora do almoço, ao meio-dia, em um restaurante ou bar de Nova Lima, para colocar o papo em dia. Como sempre um ou outro amigo da turma faltava, comecei a filmar os encontros e a postar para os ausentes. Naquela onda: “Olhe o que você está perdendo, seu vagabundo...”. Fotografava a mesa, os petiscos, a turma dando gargalhada, essas coisas.
Postava só para esses amigos?
Sim, cara. Eu tinha uma página no Instagram, mas como
usuário comum, familiar. Se tivesse uns 60 vagabundos me seguindo era muito.
Eu, um cara de 47 anos, não tinha a menor noção do poder real da internet,
tampouco me imaginava tendo renda ou atividade nesse negócio. Mandava para os
amigos só por WhatsApp. Uma coisa mesmo restrita, para a turma apenas. Só tinha
Instagram porque uma das minhas filhas, Ana Clara, montou para mim, para
guardar fotos das trilhas que faço de moto e bicicleta, algo que amo.
E aí?
Como sou esse brincalhão que você está vendo, e encarnava
muito na turma, os vídeos começaram a vazar e o pessoal passou a distribuir. A
coisa começou a pegar, rapaz. Até que a Fernanda, minha mulher, chegou em mim e
brincou: “Henrique, você faz trilha de bicicleta, de moto, caminha, corre, e,
em vez de eu receber isso, chegam vídeos seus rindo, almoçando, comendo petisco
e tomando gelada com sua turma. Minhas amigas estão achando que você é
vagabundo. Se não sabe, esse negócio está crescendo. Veja ao menos uma forma de
ganhar algum com isso”. Obviamente a coisa do dinheiro era piada da Nanda, só
para a gente se divertir.
Mas até aí você não tinha planejado nada com os vídeos,
né?
Isso. Ficou assim por mais um tempo. Trabalho com meus
pré-moldados. Minha esposa e meu filho trabalham. Para mim, os vídeos
continuaram a ser apenas para brincar com a turma. Mas a família começou a me
mostrar o barulho que estava rolando, minha filha dizendo que as amigas dela de
escola enviavam vídeos meus. Até que, numa sexta-feira, resolvi ir ao encontro,
mas não postar vídeo. Para quê, rapaz? Às 2 da tarde tinha recebido mais de 1,5
mil mensagens e umas 300 tentativas de ligação no celular. Era o pessoal
cobrando o vídeo. Voltei a postar e, no meu pouco conhecimento, comecei a
perceber que o negócio tinha ficado sério [risos].
O rapaz do marketing disse: “Topa fazer vídeos com meu
produto? A mesma coisa, sem roteiro. Não precisa falar o nome da marca. Vou
divulgar os vídeos nas minhas redes e canais. Em troca, pagarei sua conta e a
dos seus amigos nos encontros”. Pensei: o cara vai pagar para eu comer e beber?
Deve ser trote. Desconfiei, mas depois achei interessante.
HENRIQUE MADERITE
Quando a brincadeira virou atividade de influenciador?
No início de 2021, eu estava sozinho perto de casa quando
chegou um rapaz chamado João Paulo, do marketing de uma cervejaria de Nova
Lima, a Läut. Não nos conhecíamos. Ele disse: “Você topa fazer aqueles vídeos
de sexta-feira com meu produto? Fará a mesma coisa, sem roteiro, nada. Não
precisa nem falar o nome da marca. Vou pegar os vídeos e divulgar nas minhas
redes e canais. Em troca, pagarei sua conta e a de todos os seus amigos nos
encontros”. Confesso que desconfiei nos primeiros minutos, mas depois passei a
achar a proposta interessante.
Campanha do influenciador beneficiou 1.281 famílias de 42
cidades
Campanha do influenciador beneficiou 1.281 famílias de 42
cidades
ARQUIVO PESSOAL
Você fez o vídeo uma vez e ele publicou.
Exatamente. Fiz o vídeo na sexta-feira, com o produto
dele, e enviei. Ele perguntou: “Posso publicar?”. Eu disse: “Pode fazer o que
quiser”. Continuava a não ter noção do impacto possível e, no fundo, a não
acreditar muito nas possibilidades de sucesso desse negócio de internet e rede
social. Ao menos para mim, na minha idade. Ele publicou pela primeira vez os
vídeos no Instagram.
O João Paulo não parou de me ligar na segunda-feira
seguinte. Pensei: “Será que ficou tão ruim que o cara vai me cobrar a conta da
reunião?”. [Risos] Atendi no fim do dia, meio sem vontade. Ele, empolgado,
mandou: “Sucesso”. Tinham 14 mil seguidores e, no primeiro pulo, bateram nos 30
mil. Engajamento, compartilhamento de vídeo, uma coisa louca. Aí ele disse:
“Tenho uma proposta; vamos nos ver”. Nos encontramos no dia seguinte. Ele levou
um contrato e mandou: “Vou te pagar a quantia mensal X para você fazer os
vídeos com meus produtos toda sexta”. Pensei: o camarada pagar meus petiscos e
as cervejinhas por contrato? Deve ser golpe. Felizmente não era. Assim começou,
em janeiro de 2021. Hoje brinco com a turma que, ao mei dia das sextas, esqueço
a construtora, dou um beijo na Nanda e saio para o bar ou o restaurante para
trabalhar pesado com os amigos. [risos]
Não fico colocando coisa todo dia, toda hora. Tipo estou correndo, andando de bicicleta, acordei, dormi... Não. O pessoal que me segue não quer essa quantidade louca, mas qualidade. Deseja postagens ligadas aos encontros com os amigos, eventos, reuniões, momentos especiais.
HENRIQUE MADERITE
O “trabalho pesado”, pelo visto, cresceu demais da conta, como se diz aí em Minas.
Pois é. Hoje temos quase 1,2 milhão de seguidores no
Instagram e estamos evoluindo muito no TikTok. Sessenta e oito por cento do meu
público é formado por homens dos 19 aos 60 anos, com ênfase na faixa dos 25 aos
57. Tenho 20 parceiros patrocinadores regulares, para eventos e ações na
internet, e mais entre 15 e 20 contratantes pontuais. Não fico colocando coisa
todo dia, toda hora. Tipo estou correndo, andando de bicicleta, acordei,
dormi... Não. O pessoal que me segue não quer essa quantidade louca, mas
qualidade. Deseja postagens ligadas aos encontros com os amigos, eventos,
reuniões, momentos especiais. As postagens de Facebook e YouTube não são
nossas, mas de fãs que colocam lá. Hoje esse projeto, que inclui também um site
com produtos e serviços, o henriquemaderite.com, envolve 12 trabalhadores.
Rapaz, tô aprendendo a mexer com o troço, tá percebendo?
Parece que sim. Como surgiu a campanha para ajudar as
vítimas das chuvas e enchentes da virada de 2021 para 2022?
Ótimo você tocar nesse assunto. Acabamos há pouco de
fazer o balanço da campanha. Vou divulgá-lo nos próximos dias, como prestação
de conta aos doadores, numa live, mas adiantarei os números para você, em
primeira mão, com prazer. Estava na Bahia do início de 2022, atendendo três
parceiros, quando as chuvas castigaram cidades baianas. Logo em seguida foi a
vez de Minas Gerais. Um estrago, incluindo muitas famílias bem perto de onde
moro, em lugares que frequento. Uma coisa horrível. Na volta, falei com minha
mulher: “Não posso ficar postando momentos felizes, gente fazendo festa, dando
gargalhada, em meio a essa calamidade toda, com Minas embaixo d’água. Ainda não
decidi o que fazer, mas só sei que precisamos dar uma pausa nesse modelo e
pensar em outra coisa”. Conversa vai, conversa vem, e tivemos a ideia de lançar
na internet o Projeto Sextou Solidário.
Na festa com a família por 1 milhão de seguidores no Instagram
Na festa com a família por 1 milhão de seguidores no
Instagram
ARQUIVO PESSOAL
Como foi?
Arrumamos, com nosso advogado, uma fundação para
centralizar e receber, em sua conta, as doações. Antes de publicar o pedido de
doações, liguei para os anunciantes e expliquei a necessidade de mudar a linha
por um tempo e partir para algo solidário. Concordaram todos — até porque
alegria, em meio àquela catástrofe, poderia gerar algo negativo, antes de tudo,
para a imagem deles. Pois bem: postamos o vídeo pedindo doações às 10 da manhã
de 14 de janeiro de 2022, uma sexta-feira, com o compromisso de fechar a
campanha na segunda-feira seguinte, dia 17. As pessoas do nosso grupo chutavam
hipóteses de arrecadação total: R$ 30 mil, R$ 50 mil... Particularmente,
esperava um pouco mais, algo em torno de R$ 200 mil, pois sabia que alguns
parceiros contratantes e patrocinadores iriam colaborar.
Vamos lá. Meu advogado ligou às 13h30, três horas e meia
depois da postagem. Tínhamos arrecadado mais de R$ 500 mil. Tomei um susto.
Quer saber quanto doaram até o final, na segunda-feira 17 de janeiro? Dois
milhões, seiscentos e doze mil, setecentos e sessenta e nove reais — e trinta e
três centavos. Exatamente. Em 72 horas.
HENRIQUE MADERITE
Você prometeu adiantar números e compras da campanha. Quanto rolou, afinal?
Vamos lá. Meu advogado ligou às 13h30, três horas e meia
depois da postagem. Tínhamos arrecadado mais de R$ 500 mil. Tomei um susto.
Quer saber quanto doaram até o final, na segunda-feira 17 de janeiro? Dois
milhões, seiscentos e doze mil, setecentos e sessenta e nove reais — e trinta e
três centavos. Exatamente. Em 72 horas.
A rigor, ainda estamos fazendo. Compramos mil geladeiras,
mil camas, mil colchões e mil fogões. Entregamos tudo isso a 1.281 famílias de
42 municípios mineiros, e também Petrópolis, a Cidade Imperial, na região
serrana do estado do Rio, muito castigada pelas chuvas e enchentes da virada de
ano. Mandamos para lá carretas com 92 unidades de cada um desses quatro
produtos. Uma transportadora, a JWR, mergulhou fundo na campanha e entregou
esses e todos os outros produtos de graça. Temos um saldo de R$ 267.505 em
conta. Pedimos ao Ministério Público indicação de instituições para doar todo
esse valor. Estamos esperando a resposta.
Admirável.
Pois é... Meus seguidores gostam de diversão, mas foram
gigantes na hora da seriedade.
Mudando de assunto, mas embarcando em um que você entende bem: qual é o melhor tira-gosto do mundo?
Torresmo. No Mercado de Belo Horizonte tem o jiló com
fígado, um clássico. Mas torresmo é imbatível. Você já sabe com quem vai comer
um torresmo na próxima vez que vier a BH, não é mesmo?
Marcado.
Até lá.
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